Dirigido por Ridley Scott e com Joaquin Phoenix no protagonismo, o filme Napoleão chegou aos cinemas na semana passada e rapidamente mostrou resultado em bilheteria. Criticado por historiadores, especialmente franceses, o longa se vale de algumas liberdades históricas para passar ideias básicas sobre a índole do personagem. Confira a seguir os três erros mais drásticos.
Decapitação de Maria Antonieta
O filme começa com a cena da decapitação da rainha da França Maria Antonieta, em 16 de outubro de 1793, na Praça da Concórdia, em Paris. Na multidão, um jovem Napoleão Bonaparte assiste ao momento. Na vida real, ele estava há mais de 800 km de distância de Paris – Napoleão comandava o exército no Cerco de Toulon, conflito que retomou para a França a região portuária das mãos dos britânicos. Aqui, a intenção do diretor era situar a história do futuro imperador com a queda da monarquia francesa.
Ataque às pirâmides
Em julho de 1798, Napoleão conduziu a Batalha das Pirâmides, no Egito, momento apresentado no filme como início da dominação napoleônica. Ridley Scott, porém, tomou uma liberdade e tanto nesta reprodução: no longa, o exército francês atira no topo de uma das pirâmides. Segundo diversos historiadores, isso não aconteceu – até um dos especialistas em Napoleão que trabalhou como consultor do filme disse ter avisado o diretor sobre a impossibilidade da cena. “Eu disse ao Ridley: ‘sério? Atirar no topo das pirâmides?’, e ele respondeu: ‘Bem, você riu, não é mesmo’”, disse o professor Michael Broers. “Foi ali que eu entendi que estávamos fazendo um filme, e não um documentário”, reforçou o especialista. Uma lenda antiga afirma, ainda, que foi Napoleão quem atirou no nariz da Esfinge, outro ponto egípcio icônico. Porém, é amplamente documentado que o nariz danificado no monumento já estava assim bem antes da chegada da tropa francesa.
Idades desiguais
Se não se importou em retratar uma batalha sem desvios, Ridley Scott, então, se importou menos ainda em colocar na tela Napoleão e Josephine, esposa do general, com as idades corretas. Joaquin Phoenix tem 49 anos e interpreta Napoleão em todas as fases, dos 24 anos, quando Maria Antonieta é morta, até os 51, quando ele morre. A maquiagem do ator muda muito pouco entre uma ponta e outra, especialmente quando ele é mais novo – o que não aparenta. O retrato de Josephine (vivida por Vanessa Kirby) é ainda mais errôneo – e muito hollywoodiano. A esposa de Napoleão era seis anos mais velha que ele, enquanto Vanessa Kirby é catorze anos mais nova que Joaquin Phoenix. A diferença entre eles é óbvia desde a primeira cena – e, enquanto ele envelhece, ela muda muito pouco de aparência. Relatos ainda sugerem que Josephine tinha uma dentição precária, por ser viciada em açúcar. Vanessa, claro, não padece do mesmo mal e tem o sorriso perfeito.