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Fragilidade ideológica

Nem direita nem esquerda: o eleitor escolhe o que lhe é vantajoso

Por Dora Kramer Atualizado em 12 out 2018, 07h00 - Publicado em 12 out 2018, 07h00

A onda direitista que varreu o Brasil junto com os efeitos do “antipetismo” arraigado nas almas brasileiras é a explicação recorrente e quase unânime para o desempenho exitoso de Jair Bolsonaro nesta eleição. Realmente é o que fazem supor as aparências. Mas não necessariamente é o que está depositado sob camadas menos aparentes da realidade ainda no aguardo de ser desvendadas.

Não tenho notícia de que o país fosse esquerdista em 2002 e assim tivesse se mantido pelos seguintes doze anos em que elegeu e reelegeu governantes do PT. Pelo critério das análises correntes, o brasileiro seria um povo muito volúvel. Foi de direita ao escolher Fernando Collor, aderiu ao centro quando elegeu Fernando Henrique duas vezes em primeiro turno, inscreveu-se na esquerda nas eleições e reeleições de Luiz Inácio da Silva e Dilma Rousseff, e voltou-se de novo para o direitismo ao levar Bolsonaro agora à condição de campeão do primeiro turno em situação numérica e politicamente difícil (para dizer pouco) de ser modificada.

Em nenhuma dessas ocasiões esteve em jogo a ideologia. Na maioria, o eleitor é antes de tudo um pragmático. Não é esquerdista nem direitista, é governista quando isso evoca a obtenção de benefícios, e daí faz a escolha que lhe parece mais vantajosa como demonstra a fidelidade do Nordeste ao PT — misto de gratidão e crença de que o Brasil possa ser “feliz de novo” mediante a mágica de um toque na tecla da urna.

Minoritários, os eleitores ideológicos habitam as extremidades, embora a média possa se comportar de maneira extremada quando pautada por turbulências mentais e emocionais. Duas eleições passadas foram, como esta agora, marcadas por boa dose de irracionalidade, algo comparado a uma “fé de manada” contra a qual não há argumento que dê jeito.

Fernando Collor já tinha sido um prefeito de Maceió e um governador de Alagoas nos moldes do que viria a ser na Presidência. No entanto, o eleitorado de 1989 não quis nem saber dos fatos, preferindo embarcar na simbologia do santo guerreiro. Fez o mesmo treze anos depois, quando preferiu acreditar num PT artificialmente repaginado e adaptado pelo marketing às circunstâncias a esquadrinhar racionalmente o comportamento do partido (e também do líder, Lula) nas duas décadas anteriores.

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Repete o padrão agora, ao conferir a Bolsonaro atributos extraordinários que ele não tem e poderes que a um presidente não são permitidos. O eleitorado se posiciona em reação àquilo que por várias vezes escolheu mediante critérios e crenças equivocadas. Aplica força semelhante, mas em sentido contrário. O efeito “fé de manada”, contudo, é o mesmo.

Tudo isso para um resultado, lamentavelmente, cumpre informar, também desastroso. Tenha o segundo turno o resultado que tiver porque, preceito comezinho da psicologia, não se pode errar sempre esperando que um dia o erro se configure em acerto por obra do espírito santo protetor dos seres desprovidos de juízo.

Publicado em VEJA de 17 de outubro de 2018, edição nº 2604

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