A condenação de Luiz Inácio da Silva por corrupção passiva e lavagem de dinheiro na instância comandada pelo juiz Sergio Moro já era esperada. Bem como é de conhecimento geral que o ex-presidente é réu em outros quatro processos e, a despeito de aparecer em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de votos para 2018, surge no topo da rejeição. Se 30% votariam nele, os que não votariam em hipótese alguma variam entre 46% e 50%, a depender do instituto.
Medições feitas antes que a condenação no primeiro dos processos se impusesse como dado da realidade. Nem por isso analistas de respeito se inibiram de defender a ideia de que a derrocada de Michel Temer e sua hoje já provável queda do poder corresponderiam necessariamente à ressurreição do PT em geral, Lula em particular, como força política eleitoralmente competitiva. Por esse conto (de fadas?), os petistas estariam a cavaleiro, transitando no terreno de oposição em tudo a eles bastante familiar.
Essa versão busca reativar o medo de possível volta do PT ao poder. Ao mesmo tempo, e por isso mesmo, estimular os adversários do partido apeado do poder a defender Temer seguindo a lógica do “ruim com ele, pior sem ele”. Serve para o atual presidente, mas não trabalha a favor dos fatos ditos e reescritos na voz de Temer. Em relação ao PT revela criatividade seletiva, que implica o desconhecimento da realidade objetiva.
O PMDB, por anos a fio comandado por Michel Temer, fritou-se. Mas, antes disso, fritou-se o PT na visão da sociedade, conforme atestaram os números profundamente desfavoráveis das eleições municipais de 2016, quando perdeu mais de 60% dos votos em relação ao pleito anterior, em 2012. Entre esse ano e hoje passaram-se cinco anos, durante os quais o PT só fez perder. Todos os cabeças da época áurea estão de alguma forma enrolados na Justiça.
O que levaria o eleitorado a votar no PT? A ação da geração substituta àquela temporária ou permanentemente residente em cadeias ou portadora de tornozeleira eletrônica com liberdade restrita certamente não seria. A comprovar, a genial ideia de mandar um grupo de senadoras (que não se constrangeu em obedecer à ordem) ocupar a Mesa do Senado, numa ação que seria apenas uma manifestação de estudantada se não estivesse capitaneada por uma parlamentar (Gleisi Hoffmann) investigada.
É assim que o PT vai se reerguer? Ora pois. O eleitorado de 2018 não pode, não deve e não quer usar como instrumento o espelho retrovisor, que, nesta altura, está claro: era de vidro e se quebrou. A estudantada em que as senadoras se deixaram usar evidencia o erro de cálculo dos petistas no exercício da oposição.
Para muita gente, o PT, e Lula aí incluído, acabou. Para Michel Temer e companhia, o tempo também se esgotou. A questão que se nos impõe é o que será do amanhã, cujo roteiro terá autoria de uma sociedade consciente, consistente e refratária aos ditames dos candidatos e à proposta de salvação nacional.
Publicado em VEJA de 19 de julho de 2017, edição nº 2539