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“Difícil imaginar mito mais atual”, diz tradutor de clássico grego

Em nova versão em português da peça sobre Prometeu, professor desvela a atualidade dessa narrativa e os desafios de trabalhar o grego antigo

Por Diogo Sponchiato Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 26 mar 2024, 22h59 - Publicado em 26 mar 2024, 09h03

Na cultura ocidental, ele é o primeiro salvador da humanidade. Não só bancou o advogado dos releis mortais diante de Zeus, recém-empossado no trono dos deuses, como forneceu à nossa estirpe o fogo e a técnica, bens necessários para criar e cultivar uma civilização. Esse é Prometeu, o protagonista do mito grego e da peça de Ésquilo (525 – 455 a.C.), que ganha nova tradução para o português.

Em Prometeu Prisioneiro, da Editora 34, o professor Trajano Vieira, um dos maiores nomes na transposição dos clássicos da Grécia Antiga para o nosso idioma, oferece ao leitor brasileiro sua versão de um dos textos mais influentes da história da literatura.

A peça gira em torno do castigo do titã, que, depois de ajudar Zeus a destituir seu pai e mandá-lo para o Tártaro (os confins do submundo), busca defender os seres humanos da ira do novo tirano olímpico. Prometeu entrega de presente aos homens o fogo e o saber, feito que enfurece Zeus. O poderoso chefão aprisiona o ex-aliado em um rochedo isolado, onde ele sofrerá sua tortuosa pena.

Prometeu Prisioneiro

prometeu-prisioneiro

Na história de Ésquilo – que apresenta diferenças para a versão de Hesíodo -, Prometeu recebe as visitas de deuses e ninfas, e, assim, conheceremos seus dissabores e argumentos. Protetor dos seres humanos, sua benção aos mortais é prova de que não existe salvação sem conhecimento – algo que episódios trágicos e bem reais como a própria pandemia de Covid-19 corroboram.

Hora de ouvir o estudioso que, depois de traduzir a Ilíada e a Odisseia de Homero e outros tantos clássicos gregos, nos ilumina com a nova edição de Prometeu Prisioneiro, livro que conta, ainda, com esclarecedores textos de apoio.

Com a palavra, o professor Trajano Vieira.

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(Foto: Luciana Suzuki/Reprodução)

Qual é a grande mensagem de Prometeu Prisioneiro para o leitor e o mundo contemporâneo?

Difícil imaginar um mito mais atual que o de Prometeu. O personagem simboliza o conhecimento científico e artístico. O elenco de suas invenções, que Ésquilo apresenta na peça, é exuberante e diversificado, abarcando o cálculo numérico, a astrologia, a escrita e a gramática. Mas a tragédia possui muitos outros elementos que nos dão o que pensar até hoje.

Cito um: a questão do monopólio do saber, prerrogativa que Zeus considera sua, e sua partilha, diríamos, sua democratização, que em última instância é o que significa a transferência do conhecimento aos homens, razão pela qual Prometeu é punido pela figura mais poderosa do Olimpo. Entretanto, a tortura é insuficiente para alterar o comportamento altivo do paladino dos homens. Há um outro tema atual que perpassa o drama, que apenas deixo enunciado ao leitor: a natureza cíclica do poder.

Quais os desafios ou as particularidades ao traduzir uma obra dessa importância, que já conta com outras versões em português. O que balizou sua tradução?

Diferentemente do que ocorre em outras peças de Ésquilo, a linguagem do Prometeu é seca e direta, refletindo sua temática, que tem a ver com a lucidez e o conhecimento. Essa diferença de linguagem em relação às outras tragédias do autor é objeto de importante discussão entre os especialistas, que apresento no posfácio que integra a edição. É um drama em que predominam os debates, não a ação. Conseguir manter a tensão dos diálogos talvez seja o maior desafio para o tradutor.

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Em minhas versões, procuro estar atento aos jogos formais das obras, busco levar ao leitor que desconhece o grego aspectos estruturais do original. Evidentemente não se trata de uma transposição automática, mas de um processo de reelaboração, que almeja recompor em português efeitos presentes no grego, particularmente em termos de ritmo e de sintaxe.

Entre os clássicos gregos que o senhor verteu para o português, qual se mostrou a empreitada mais árdua até o momento?

A tradução integral da Ilíada e da Odisseia foi o maior desafio que enfrentei até agora. Isso decorre não só da altíssima qualidade poética do original, que impõe ao tradutor uma atenção especial, mas também da dimensão dos dois poemas que, somados, chegam a quase 28 mil versos.

Mas não fica atrás, em termos de desafio, a atividade a que me dedico agora: a tradução integral das odes de Píndaro. Na verdade, esse trabalho, em que estou envolvido há anos, está em fase de revisão. Píndaro é um autor extremamente complexo, por causa de sua sintaxe labiríntica e de suas imagens inusitadas que se sobrepõem. O registro extremamente elevado de sua dicção, que tanto interessou, na modernidade, a poetas do quilate de Hölderlin e Valéry, exige do tradutor uma disposição para retrabalhar constantemente o que parecia ser uma solução definitiva.

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