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Como o DNA ajuda a contar a nossa história – inclusive como nação

Médico explica em livro como as descobertas genéticas permitem compreender melhor nosso passado e impulsionam uma revolução no cuidado com a saúde

Por Diogo Sponchiato Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 8 jan 2024, 08h15

Ricardo di Lazzaro soube que seria geneticista aos 14 anos. As aulas de biologia e química plantaram as sementes que, após duas graduações, um mestrado e outro doutorado, germinaram na carreira de pesquisador e no desejo de empreender e montar um laboratório de testes centrados no DNA humano.

Médico, farmacêutico e doutor em genética pela USP, o paulistano hoje colhe frutos dessa vocação, dos anos de estudo e das iniciativas que plantou no mercado. É cofundador e CEO da Genera, um dos principais laboratórios de exames genéticos do país – hoje parte do grupo Dasa – e dono do maior banco privado de amostras de DNA na América Latina.

O carro-chefe do portfólio da empresa é o teste de ancestralidade, que permite descobrir nossas origens étnicas e geográficas por meio do cruzamento de informações contidas em nossos genes, ao lado do exame focado em bem-estar que apura riscos e tendências de saúde. Ambos são feitos com a simples coleta de uma amostra de saliva em casa, despachada para análise via correio.

O banco de dados da Genera, somado a outras pesquisas realizadas no âmbito público e privado no país, é prova viva de que a genética se tornou uma poderosa ferramenta para ajudar a contar e a escrever nossa história. E não só como pacientes!

Na verdade, trata-se de um recurso e tanto para a História com “h” maiúsculo, como di Lazzaro expõe no livro O DNA do Brasileiro, lançado no fim de 2023 pela Maquinaria Editorial.

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A obra oferece um workshop didático sobre as bases conceituais do genoma – convenhamos que o assunto não é fácil – e se esmera em mostrar como informações extraídas do código genético auxiliam a confirmar (ou refutar) achados históricos, alguns deles repetidos nas salas de aula.

O DNA do Brasileiro

Um dos tópicos esclarecedores abordados pelo médico diz respeito à formação da população brasileira. O predomínio da herança paterna europeia – estampada pela análise do cromossomo Y – e da herança materna indígena ou negra – atribuída ao DNA mitocondrial, só transmitido pelas mães – é evidência de que os homens europeus que chegaram a estas terras na época da colonização oprimiram social e sexualmente mulheres nativas e negras escravizadas.

Sim, os genes contam histórias. E, com o avanço da tecnologia e da medicina, irão mudar o jeito de se cuidar e construir nossas próprias biografias.

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Com a palavra, o autor, que, apaixonado por genética, só podia ter se casado com uma… geneticista.

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(Foto: Genera/Divulgação)

Seu livro mostra que o DNA ajuda a esclarecer o que julgamos saber sobre a História. Nesse sentido, os dados genéticos realmente mostram que homens europeus oprimiram mulheres indígenas e negras escravizadas no Brasil? 

Fluxos migratórios naturalmente deixam marcas genéticas na população. Duas dessas marcas mais estudadas estão ligadas à herança materna e paterna, observadas, respectivamente, pelo DNA mitocondrial e o cromossomo Y. O primeiro é sempre transmitido das mães para seus filhos e o segundo, dos pais para filhos do sexo biológico masculino.

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O que vemos no Brasil é que cerca de 75% da linhagem paterna tem origem europeia, enquanto a linhagem materna é majoritariamente de origem indígena e africana. Esse desequilíbrio costuma ser observado em contextos de dominação violenta, como guerras e invasões, onde há morte de homens de determinada população e opressão social e sexual das mulheres da região.

Claro que, além desses pontos já documentados, isso reflete o grande fluxo migratório de homens europeus durante o período da colonização. Essa é uma marca que grande parte de nós, brasileiros, carregamos dentro de nossas células, no DNA, como testemunhas tardias dessa história que hoje a ciência já consegue contar.

Assistimos a uma crescente popularização dos testes genéticos de ancestralidade. A que atribui esse sucesso? Por que vale a pena conhecer nossas raízes genéticas?

A busca pela origem é algo intrínseco ao ser humano. Em todas as civilizações de que tenho conhecimento, há um mito sobre a origem. Com os avanços da ciência e o barateamento das tecnologias de sequenciamento genético, passou a ser possível cada pessoa descobrir de onde vêm seus ancestrais, mapeando pelo menos cinco gerações para trás e desvendando rotas de migrações dos antepassados nos últimos milênios.

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Sabemos o quanto a população brasileira é miscigenada e o quanto a origem da maioria de nós foi perdida ou apagada durante a história. Os testes vêm para preencher essa lacuna, como oportunidade para as pessoas descobrirem de onde vieram e muito mais detalhes sobre sua origem. É uma ferramenta importante para o resgate histórico e a identidade.

Hoje, mais de 300 mil pessoas já realizaram o teste de ancestralidade na Genera, principalmente após uma redução do preço nos últimos anos.

+ LEIA TAMBÉM: Livro conta a trajetória da mãe da edição genética

A genômica é uma área em ebulição na medicina. Qual o grande avanço em termos de diagnóstico e tratamento que estamos presenciando?

Os avanços na genômica nas últimas três décadas foram fundamentais para explicar a causa e permitir o diagnóstico de milhares de doenças genéticas, além de ampliar a compreensão dos diversos tipos de câncer, levando inclusive a terapias mais efetivas.

Acredito que isso seja só o início de uma revolução na medicina. Cada vez estamos compreendendo melhor como a genética influencia o desenvolvimento de doenças comuns e multifatoriais, como diabetes ou problemas cardiovasculares, em conjunto com uma série de técnicas moleculares para diagnósticos precoces, como a biópsia líquida para o câncer. Isso já vem permitindo desvendar os riscos a que estamos expostos de modo mais individual, viabilizando um cuidado preditivo, preventivo e personalizado com a saúde.

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