Parece que ficamos menos felizes. Ao menos é o que diz o Relatório Mundial da Felicidade, divulgado anualmente pela ONU, no qual o Brasil despencou da 38ª para a 49ª posição. Em primeiro lugar, pela sexta vez, está a Finlândia. Na esteira do resultado, o país montou um concurso para levar dez estrangeiros para um curso sobre “como encontrar seu finlandês interior”.
Finlandeses gostam de nadar em lagos gelados e comer salmão. Brasileiros gostam de ir à praia e comer feijoada. Eles fazem sauna nus em pelo. Nós tomamos banho de mar geralmente com pouca roupa. Mas existirá uma equação pela qual, somando semelhanças e diminuindo diferenças, se chegue à felicidade? O que, afinal, significa ser feliz? Essa pergunta tem sido feita ao longo da história por filósofos, psicólogos, médicos, economistas e talvez, em certa medida, por todos nós, não importando a especialidade de cada um.
Pensamos: serei feliz quando estiver realizado no trabalho; ou quando encontrar alguém com quem dividir o dia a dia; quando tiver uma casa grande e bonita; quando puder viajar o mundo; quando meus filhos estiverem encaminhados na vida.
Alguns defendem que se deve procurar a felicidade no cotidiano, nas pequenas coisas. Outros dizem que fazer exercícios ajuda a ser feliz, pois libera endorfina. Chocolate é bom, ativa a serotonina, retruca um terceiro. Anotar diariamente motivos para ser grato aumenta a percepção da felicidade, sugere-se. Para os menos otimistas, a felicidade é um estado inalcançável, só existem alegrias.
Todas essas coisas podem ser verdade, mas dificilmente farão sentido para todos ao mesmo tempo. É complicado quantificar um sentimento tão abstrato e com tantas variáveis. Afinal de contas, como se pode medir algo assim?
Talvez a questão não seja tanto medir quem é mais feliz no mundo, ou em qual país ou região é mais provável alcançar esse estado. Em grande medida, a percepção de felicidade é individual e flutuante. Ela pode estar no pano de fundo de nosso cotidiano, e quando é assim dizemos que estamos “realizados”. E ela pode vir de forma mais aguda, em momentos especiais ou até banais.
Em uma entrevista meses atrás, Paul Orfalea, empresário fundador da rede de copiadoras Kinko’s, diz que o sucesso se mede pelo quanto os filhos querem estar com você quando já são adultos. Eu me sinto feliz, realizada, satisfeita e poderia até dizer, como ele, bem-sucedida quando tenho os meus por perto. Mas sou feliz também ao aprender e ensinar coisas novas, espalhando ideias, conhecimentos e aprendizados. Ou ao produzir algo novo, do começo ao fim, seja isso um livro, uma receita ou uma reunião com amigos. E também ao organizar a vida e cuidar da minha casa, fazendo dela esse lar ao qual meus filhos sempre queiram voltar.
Se definir, ou medir, esse sentimento é tão difícil, arrisco dizer que algo me parece básico para chegar até ele: exercitar nossa disposição para ser feliz. Algumas pessoas, mesmo que tenham conforto e bens materiais, têm mais dificuldade em encontrar dentro de si essa vocação. Outras se sentem felizes mesmo com muito poucos recursos. Ao divulgar seu workshop, os finlandeses dizem não ver a felicidade como uma qualidade mística e inata, mas uma habilidade a se desenvolver. Pessoalmente, prefiro acreditar que eles têm razão.