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A quiche do soberano

O que o prato da coroação sugere sobre o reinado de Charles III

Por Lucilia Diniz
11 Maio 2023, 16h52

Quando Elizabeth II foi coroada rainha, há quase 70 anos, o Reino Unido saudou com muita expectativa a sucessora de George VI, rei amado por seu papel durante a Segunda Guerra Mundial. A jovem monarca tinha 27 anos e, ao morrer, com 96, era adorada pelos súditos e uma figura pop mundo afora. A coroa que seu primogênito passou a carregar no último dia 6, aos 74 anos, tem o peso dessa popularidade.

Antes da coroação de Charles III, um aspecto das festividades foi muito debatido: o prato escolhido por ele e pela rainha-consorte Camilla, uma quiche de espinafre, favas e estragão. Para uns, parecia ofensiva a origem francesa da iguaria. Para os franceses, não era nem quiche, mas torta, por não levar bacon. Outros riram do esforço de Charles, que abre mão da carne duas vezes por semana e tem o ambientalismo como causa, porque a massa pedia por banha, ou seja, gordura de porco. E, como não podia deixar de faltar a comparação com a querida Elizabeth II, muito se falou da “coronation chicken”, o prato de frango ao curry servido em 1953, quando ela subiu ao trono.

A discussão sobre a comida não é um detalhe e pode até mesmo ser vista como uma metáfora das perspectivas para o novo reinado. Os pratos nessas ocasiões sempre são carregados de simbolismo. A galinha da rainha e a quiche do rei não fogem à regra.

A “coronation chicken” foi criada pela filial londrina da escola Cordon Bleu para ser servida em um almoço para 350 convidados. Naqueles anos após a guerra, grande parte do reino ainda enfrentava carestia e o frango não era comum para os britânicos. O curry, por sua vez, era um aceno à Índia, ex-colônia que tinha se tornado independente em 1947. E, veja só, ninguém reclamou do nome original francês: “Poulet Reine Elizabeth”.

O prato, já com apelido, ficou mais popular nos anos 1970 e 80. Até hoje é muito preparado, com variações. Pode-se usar maionese industrial, em vez da caseira, frango de rotisserie, sem preparar a ave do zero, chutney de manga no lugar do purê de damascos. O curry era só um cheiro, mas hoje aumentou, para atender o gosto atual. É um prato versátil, que vai bem em bufês e piqueniques, servido frio e até como recheio de sanduíche.

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A quiche de Charles e Camilla, por sua vez, foi pensada como sendo “para todos” desde o início. A rainha-consorte é apoiadora da iniciativa The Big Lunch, o grande almoço, que promove eventos para reforçar laços comunitários. A receita, relativamente simples, seria uma boa pedida para que os súditos pudessem comer a mesma coisa enquanto acompanhavam, em casa ou na rua, a festa da coroação; como se todos estivessem à mesa real.

Pouco depois de ser divulgado, o prato ganhou releituras para ficar mais barato, considerando a crise, que não poupa o Reino Unido. E, apesar das críticas, versões prontas, assim como os ingredientes para prepará-lo, se esgotaram nas lojas. Sinal de que a família real continua em alta, mesmo se o carisma do novo soberano parece menor.

A “coronation chicken” atravessou sete décadas porque mudou, acompanhando o mundo, como também precisou fazer a monarquia. Não se sabe por quanto tempo a quiche do rei viverá na memória dos súditos, mas vou acompanhar, curiosa, como vai se adaptar aos novos tempos.

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