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Mestre e doutor em Oftalmologia pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp), é presidente institucional do Instituto Coalizão Saúde e do conselho do Hospital Albert Einstein
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Quando ouvir, e quando não ouvir, o que o corpo diz

Para começar a correr, o melhor é focar em outra coisa que não o corpo dolorido; mas para a saúde em geral, estar atento é a regra

Por Claudio L. Lottenberg
18 Maio 2023, 16h40

A maratona feminina da Olimpíada de Los Angeles, em 1984, produziu uma cena memorável: a atleta suíça Gabriela Andersen-Schiess percorre os últimos 500 metros da prova sofrendo de desidratação e, quando entra no estádio, cambaleia rumo à linha de chegada, completando a prova em 37º lugar. Ela mesma diria, anos depois: “Você tenta deixar isso de lado e se concentrar apenas na corrida (…) Eu meio que disse a mim mesma para tentar continuar correndo, meus músculos já não respondiam (…) Eu sabia que se parasse, ou me sentasse, seria o fim”.

A maratona feminina em si já foi um marco, sendo a primeira do tipo na história dos Jogos. Não há um relato mais detalhado do que se passava pela mente de Gabriela naqueles angustiantes metros finais da maratona. Mas, por suas palavras, o que se vê é que ela tentava esquecer a exaustão, os músculos extenuados, a tentação de parar e acabar com aquilo. Ela tentava evitar, por assim dizer, aquilo que o próprio corpo gritava para que ela fizesse. Deixar de lado o que o corpo diz para ter um desempenho melhor na corrida foi algo que se observou num estudo publicado no periódico especializado Journal of Motor Learning and Development.

O estudo acompanhou 12 corredoras não-profissionais, com idades de 18 a 30 anos, e o que se viu foi que a economia de corrida é melhorada e a sensação de fadiga é menor quando a atenção da corredora se fixava em um ponto externo — para o teste, a pessoa, correndo em uma esteira, acompanhava uma partida de basquete em um monitor posicionado à altura dos olhos.

As outras estratégias do estudo eram: repetir para a corredora que contasse seus passos na esteira; repetir a frase “foco nos músculos de seus pés”; e realizar um cálculo a partir de um número — o pesquisador dizia um número e a pessoa deveria ir subtraindo 3 do dado número e anunciar o resultado em que estava a cada 30 segundos.

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O experimento pode servir de orientação para quem vê na corrida um passatempo interessante, uma ótima maneira de manter a forma física, um exercício que faz bem (desde que acompanhado por um cardiologista) para o coração — não são poucos os benefícios da corrida para o corpo. Claro que há limites: um outro estudo, realizado na Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia, mostrou que correr pode gerar um estado de tamanho bem-estar, relaxamento e distração que pode chegar a gerar dependência — um vício mesmo. Faz pensar na pergunta da genial canção de Roberto Carlos: “Será que tudo que eu gosto é ilegal, é imoral ou engorda?”.

Mas excluídos os casos extremos, de correr até a beira da completa exaustão e desidratação, ou de chegar a se viciar em correr, no contexto do exercício para corredores amadores, a técnica de “não ouvir o corpo” pode ser uma chave para abrir as portas do mundo da atividade física. De novo: não são poucos os benefícios que correr traz. Consulte antes um médico para ter uma ideia de sua condição de saúde e de como começar e, como diz a garotada: “Bora lá”.

Mas aqui cabe uma outra reflexão: “ouvir o corpo” é uma variação do tema “atenção para sintomas”. Como médico, uma orientação basilar, elementar, fundamental é buscar o diagnóstico precoce. Estar atento a mudanças, perceber o corpo agindo ou reagindo como não o fazia há até um tempinho atrás pode fazer toda a diferença no que diz respeito a tratar de alguma condição. Se para correr o ideal é tentar não ouvir as reclamações do corpo saindo do sedentarismo, para os cuidados com a saúde o melhor é estar atento ao mínimo ruído do corpo. Quanto mais cedo ouvirmos, melhor.

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