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Mestre e doutor em Oftalmologia pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp), é presidente institucional do Instituto Coalizão Saúde e do conselho do Hospital Albert Einstein
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Pesquisa científica será o agente do crescimento e da igualdade

Ainda que número de artigos científicos tenha tido forte queda no Brasil em 2022, há condições de expandir essa produção

Por Claudio L. Lottenberg
23 ago 2023, 10h03

O físico inglês Isaac Newton publicou em 1687 os “Princípios Matemáticos de Filosofia Natural”, que o tornaria um dos principais nomes da chamada Revolução Científica iniciada no século 17. É aceita a ideia de que Newton conheceria tudo sobre ciência em sua época. Hoje, é seguro dizer, seria impossível, porque o volume acumulado de produção científica é simplesmente imenso e continua a crescer. O que não significa que esse ritmo de crescimento seja à prova de oscilações — o Brasil que o diga.

O relatório “2022: um ano de queda na produção científica para 23 países, inclusive o Brasil”, da Elsevier-Bori, mostrou que o ano passado foi o ponto de inflexão na produção científica brasileira: pela primeira vez desde que o levantamento é feito (1996), o país viu um decréscimo de 7,4% na comparação com o que se fez em 2021. É inquietante ver, no ranking, que a queda foi maior que na Ucrânia – país que está em guerra há mais de um ano. O relatório lembra que é preciso considerar outros fatores para que se faça uma ideia mais precisa da capacidade de um país para produzir ciência e tecnologia – como quantidade e qualidade dos estudantes formados, número de patentes internacionais, citações em trabalhos científicos e em documentos orientadores de políticas públicas.

Não é de hoje que ouvimos falar na “fuga de cérebros” do Brasil: um dado recente é o da empresa multinacional de imigração Fragomen, que mostra que entre janeiro e novembro do ano passado, os pedidos de vistos de emprego e residência para Portugal cresceram 200% frente a um ano antes; 114% para os Estados Unidos; e mais de 500% para Austrália e Nova Zelândia. Parte considerável desses que emigram são profissionais qualificados em áreas tecnológicas e científicas. O Brasil teria muito a ganhar mantendo-os aqui, mas isso requer que se pense no país que se quer ver no futuro. Ciência requer investimento em qualificação e infraestrutura, e nisso ainda há um longo caminho a percorrer, em termos de incentivos e políticas públicas.

Mas o Brasil não é necessariamente o deserto das ideias. Pensemos no SUS (Sistema Único de Saúde): a Constituição de 1988 diz, no art. 200, diz que a ele também compete “incrementar em sua área de atuação o desenvolvimento científico e tecnológico”. Essa é a raiz do PPSUS (Programa Pesquisa para o SUS), iniciativa de fomentar pesquisa em saúde que atenda as demandas específicas de cada Estado e contribua para reduzir desigualdades regionais. Pesquisa em saúde, segundo o Ministério da Saúde, representa 30% da produção científica brasileira – o que faz do programa uma “ferramenta potencialmente indutora para que os principais problemas de saúde da população figurem entre as linhas prioritárias de investigação dos pesquisadores brasileiros”.

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Tramita no Congresso Nacional uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) para que o investimento público em ciência e tecnologia chegue a 2,5% do PIB (Produto Interno Bruto) até 2033. Em 2020, a média de gastos dos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) em pesquisa e desenvolvimento foi de 2,96%; na Coreia do Sul, de 4,81%; em Israel, de 5,44% (todos dados do Banco Mundial). Chegando ao proposto, o Brasil ficará mais alinhado com a média mundial (2,63%), ainda que apenas 13 anos depois.

Pode soar um tanto trivial dizer que o crescimento econômico está e estará cada vez mais ligado a inovação e tecnologia. Tanto aquela como esta são aplicações e desdobramentos de avanços científicos: busca por novos materiais, desenvolvimento de combustíveis renováveis, aplicação cada vez mais eficiente da IA (inteligência artificial), pesquisa em sustentabilidade, produção de alimentos, combate a doenças – tudo isso e muito mais requer pessoal capacitado, estruturas como laboratórios e universidades equipadas e integração e parcerias com o setor privado. O Brasil tem plenas condições de promover mais pesquisa e desenvolvimento científico, dos quais a qualidade de vida e mesmo o fim das desigualdades serão cada vez mais dependentes.

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