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Claudio Lottenberg Mestre e doutor em Oftalmologia pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp), é presidente institucional do Instituto Coalizão Saúde e do conselho do Hospital Albert Einstein
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Nova variação do coronavírus põe em xeque festas de fim de ano e Carnaval

Ômicron, que foi declarada “variante de preocupação” pela Organização Mundial da Saúde, já chegou aos cinco continentes

Por Claudio Lottenberg
29 nov 2021, 18h08
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  • No mito grego que leva seu nome, Sísifo empurra montanha acima uma pedra, apenas para, ao chegar ao topo, vê-la rolar abaixo. Uma interpretação possível é a de que isso simboliza o trabalho feito em vão. É o que corremos o risco de ver no atual contexto do combate à Covid-19 – com o relaxamento de importantes medidas como o uso da máscara, a possibilidade de manutenção dos calendários de festas públicas de fim de ano e do Carnaval e ainda, o fator mais grave, o surgimento de uma variação nova do coronavírus: a B.1.1.529 (a que se nomeou ômicron, a 15ª letra do alfabeto grego).

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    Muito pouco se sabe até o momento sobre a nova cepa. Ela apresenta 50 mutações, não só trazidas das variações anteriores, mas algumas originais. Mutações, em geral, aumentam as possibilidades de variantes escaparem a tratamentos já estabelecidos – por isso, a efetividade das vacinas em uso contra a ômicron já está sendo pesquisada. Não há, até o momento, nos casos já relatados, óbitos ou manifestações severas da Covid-19 associadas a essa variação. Ou seja, ainda não temos embasamento suficiente para se dizer que seja uma forma mais agressiva do que variantes anteriores.

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    Mas a Organização Mundial da Saúde (OMS) a classificou como VOC (“Variante de Preocupação”, na sigla em inglês) e a vê com uma probabilidade elevada de propagação pelo mundo. E ela tem acontecido, de fato: o primeiro caso confirmado foi registrado na África do Sul, no dia 9 deste mês – há 20 dias, portanto, da produção desta coluna. Desde então, já foram confirmadas infecções provocadas pela variante ômicron nos cinco continentes.
    A África, lembre-se aqui, sofre com a lentidão na vacinação. No final de outubro, a OMS informou que apenas cinco países, dos 54 no continente, chegariam ao fim deste ano à meta de 40% de suas populações totalmente imunizadas. A falta de insumos básicos, como seringas, a dependência de doações estrangeiras e de repasses do consórcio Covax Facility, além de dificuldades logísticas e outras mais graves (que vão desde alguns grupos antivacina até conflitos armados), tornam o combate à Covid-19 extremamente difícil.

    O avanço dos casos em países como Alemanha – que já se referia a uma “quarta onda” da doença – e Áustria fez com que as restrições que vinham sendo abrandadas fossem retomadas. A Áustria, por exemplo, chegou a determinar lockdown. Israel, que foi o primeiro caso de sucesso na vacinação, fechou suas fronteiras a viajantes estrangeiros neste domingo (28). Mesmo cidadãos israelenses que tenham viajado para o sul da África terão de fazer quarentena (para os vacinados, três dias; para os que não tomaram vacina, sete dias) antes de voltar pra casa.

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    Reflexos dessa nova situação, com uma variante com alto potencial de transmissibilidade, podem voltar a afetar uma economia global que mal se recuperou, se tanto, do abalo sofrido com a Covid-19 até aqui. Como as quebras em cadeias de produção e logística globais, inflação de alimentos, problemas de suprimento de combustíveis, para nomear só alguns.

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    O Brasil já fechou suas fronteiras para seis países da África (África do Sul, Botsuana, Eswatini [antiga Suazilândia], Lesoto, Namíbia e Zimbábue) a fim de tentar impedir a chegada da variante ômicron. Os brasileiros aderiram à vacinação e, apesar do início turbulento e algo tardio, cerca de 62% da população teve o 1º ciclo vacinal completo. O ritmo de ocorrência de óbitos e o aumento de casos têm desacelerado muito, embora o país vá carregar em sua história a triste marca de mais de 610 mil mortes ligadas à pandemia.

    O esforço realizado até o momento tem dois obstáculos fortes à frente para superar: festas de fim de ano e, principalmente, o Carnaval. Todas essas ocasiões são convites à aglomeração, ao descuidos com medidas protetivas; junte isso à iminência de uma variante ao que tudo indica muito mais transmissível, e o que se tem é o risco de um agravamento impossível de mensurar hoje. Diversas cidades pelo país já anunciaram o cancelamento de seus carnavais, enquanto outras mantiveram seus calendários de festas, mas entre muitas capitais ainda não há definição. Nos últimos quase dois anos, o Brasil e o mundo sofreram o que não se via há mais de um século em termos de crise sanitária. Se o esforço for comprometido justamente diante de uma variante sobre a qual a única informação até o momento é a alta transmissão, muito do trabalho até aqui realizado (senão todo) pode ser posto a perder. Como o realizado por Sísifo.

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