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Claudio Lottenberg

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Mestre e doutor em Oftalmologia pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp), é presidente institucional do Instituto Coalizão Saúde e do conselho do Hospital Albert Einstein

Mais brasileiros sofrem com o fardo da depressão

Pesquisa Vigitel, do Ministério da Saúde, mostrou que doença atinge em média 11,3% dos brasileiros; buscar ajuda exige que se vença o preconceito

Por Claudio Lottenberg
Atualizado em 3 Maio 2022, 09h56 - Publicado em 3 Maio 2022, 09h54

São tantos os fatores estressantes na vida cotidiana – como pandemia, degradação ambiental, guerra na Europa, crise econômica, desemprego, perda na família ou fim de relacionamentos, por exemplo –, que fica fácil imaginar que os números de casos de ansiedade, depressão e outros problemas de saúde mental pudessem subir. E é o que a Pesquisa Vigitel 2021, do Ministério da Saúde, divulgada recentemente, atesta.

Segundo o levantamento (realizado entre setembro do ano passado e janeiro deste, com 27 mil brasileiros em todas as capitais do país), 11,3% (em média) responderam “sim” ao serem questionados se algum médico já havia dito que a pessoa entrevistada tinha depressão. Mais mulheres (14,7%) que homens (7,3%) responderam positivamente. Isso faz da depressão um quadro mais comum no país que o de diabetes (9,1%), por exemplo. Foi a primeira edição da Pesquisa Vigitel que incluiu a depressão no levantamento.

Dados das edições de 2013 e 2019 de outra pesquisa, a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) mostraram que a prevalência de depressão no Brasil passou de 7,9% para 10,8%, respectivamente – um aumento de 36,7%. Outros levantamentos recentes mostraram a correlação da depressão com a covid-19. Um, realizado pela UERJ ainda em 2020, por exemplo, já registrava um aumento – de 4,2% para 8% – nos casos de depressão (além de altas nos casos de ansiedade).

A depressão é uma doença neuropsiquiátrica crônica, que pode ser recorrente. As causas da depressão podem ser multifatoriais, incluindo componentes genéticos, bioquímicos e eventos traumáticos. Entre os fatores de risco estão transtornos psiquiátricos, estresse crônico, disfunções hormonais, alcoolismo e uso de drogas – além de doenças crônicas. Há tanto um estereótipo, que tenta nivelar depressão e tristeza, quanto o preconceito em relação ao tratamento. Mas depressão – uma patologia bastante séria – não é tristeza – um estado emocional a que todos estamos sujeitos em situações que levem a isto.

E a ajuda psiquiátrica é (ainda) envolta em tabu – acaba, muitas vezes, por estigmatizar quem a procura, seja no trabalho, seja nas relações familiares ou pessoais. Deixar de procurar ajuda, no entanto, faz com que o problema se agrave. A depressão não “vai embora sozinha”. O recurso à psiquiatria precisa vencer a barreira do preconceito, para que as pessoas se sintam confiantes em pedir apoio.

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Na sociedade permanentemente conectada em que vivemos, e em que viveremos cada vez mais, as pressões nas muitas dimensões de nossas vidas – pessoal, profissional, afetiva etc. – se tornarão crescentes. Manter o equilíbrio, buscar formas mais saudáveis de viver – com alimentação mais saudável, menos uso (se possível, nenhum) de álcool e tabaco, mais atividade física, repouso e sono com mais qualidade, atividades intelectuais como leitura ou estudo, todos fatores positivos para uma boa saúde mental – serão mais necessários no futuro. Para nos lembrar desse cuidado, nem sempre observado, com a saúde mental, já existe uma campanha anual de conscientização, o Setembro Amarelo.

Buscar o diagnóstico e o tratamento – e a Pesquisa Vigitel mostra que é preciso oferecer acesso a todos ao atendimento psicológico e psiquiátrico de qualidade – é fundamental para que se possa dar o apoio a quem sofre com depressão.

É preciso lembrar: trata-se de uma doença que se agrava e pode levar a consequências sérias. Quem estiver se sentindo oprimido e dominado pelas dificuldades, pode achar que elas são insuperáveis, mas é possível diagnosticar e tratar os quadros que se configurem como depressão. Busque ajuda. Você não está sozinho.

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