São incontáveis os elogios e homenagens aos olhos em toda forma de expressão artística: sonetos, canções, quadros, esculturas, livros, não há manifestação da arte que tenha deixado de exaltar os olhos, as proverbiais “janelas da alma”. Já do ponto de vista médico, os olhos não recebem das pessoas a atenção que a arte lhes dá. Abril é o mês para que nos lembremos de que a saúde dos olhos tem de ser acompanhada de perto. O Abril Marrom é uma campanha de prevenção e combate à cegueira que existe desde 2016 – e a escolha da cor marrom representa a cor da íris dos olhos de uma grande parte da população brasileira.
Os números relativos à deficiência visual são grandes: segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), cerca de 6,5 milhões de pessoas no Brasil têm deficiência visual, e cerca de 1,6 milhão sofre de cegueira – de acordo com o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO). No mundo, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), ao menos 2,2 bilhões de pessoas sofrem de algum grau de deficiência visual, e pelo menos 1 bilhão de casos são problemas que poderiam ter sido prevenidos ou tratados.
O mundo se encontra cada vez mais imerso em um contato ininterrupto com telas – a informação tem sido distribuída cada vez mais por meios visuais (em particular por celulares, tablets e outros), e essa não é uma tendência que deva ser interrompida ou se reverter em qualquer futuro próximo, pelo contrário. Além disso, a pandemia fez com que os escritórios fossem levados para dentro das casas de bilhões de pessoas no mundo todo (e para milhões no Brasil), o que nos colocou em contato prolongado com esses aparelhos. Exposições prolongadas, como as ocasionadas pela permanência em casa em decorrência da pandemia, a equipamentos eletrônicos como celulares, tablets e mesmo laptops podem levar ao surgimento de sinais de vista cansada – dor de cabeça ao ler e visão embaralhada, entre outros.
Tudo isso justificaria um cuidado mais atento com a saúde de nossos olhos e as condições de nossa visão. Mas no Brasil, segundo pesquisa do Instituto Datafolha-Abvie (de outubro de 2021) apontou que, mesmo com metade da população brasileira apresentando algum grau de dificuldade para enxergar, 58% não tinha o hábito de ir ao oftalmologista pelo menos uma vez a cada ano; um terço dos brasileiros admitiu que não vai a especialistas em visão; e 34% falaram com um oftalmologista há dois anos ou mais.
A pesquisa ainda traz outros dados que mostram que os brasileiros não tratam com a devida importância a saúde dos olhos. A chave para esse cuidado é a prevenção: cerca de 95% dos casos de perda visual ligados a complicações da diabetes (como o edema macular diabético), por exemplo, são evitáveis ou tratáveis. Entre as principais causas de cegueira em adultos estão a catarata, o glaucoma, a degeneração macular relacionada à idade (DMRI) e o diabetes.
Ir ao oftalmologista com alguma frequência é um hábito que ajuda a detectar e diagnosticar problemas de visão em seus primeiros estágios – e nem é necessário destacar a importância que um diagnóstico precoce tem, não só para problemas de visão, mas para qualquer condição de saúde. Demandamos – e demandaremos – cada vez mais de nossa visão, para trabalhar e estudar, atividades que executaremos de forma remota com cada vez mais frequência. Tomar os devidos cuidados e aumentar a frequência das visitas ao oftalmologista – ou simplesmente passar a visitá-lo – para uma consulta só trará benefícios. Será assim que poderemos manter nossas janelas sempre abertas ao mundo.