O personagem de ficção encarnado por Bolsonaro para explicar as joias
Como o roteiro novelesco desenhado pela defesa do ex-presidente simplesmente não convence
As poucas informações que circularam até o momento sobre o depoimento dado ontem à Polícia Federal por Jair Bolsonaro o pintam como um presidente da República que bem poderia estampar algum “roteiro rocambolesco” digno de novela, como afirmou nesta semana ao Amarelas On Air o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. Mas é preciso recorrer a muita imaginação e uma dose cavalar de ironia para tentar amarrar os pontos dessa história.
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Nessa trama (bem rasa, diga-se de passagem), o ocupante da cadeira mais importante do País é um homem ingênuo. Governou o Brasil por quatro anos, mas é totalmente alheio ao que acontece à sua volta. Ninguém o informa sobre nada do que acontece. Nem mesmo quando o assunto envolve dezenas de milhões de Reais em bens apreendidos pela Receita Federal, que tinham como destinatária sua esposa, a primeira-dama. Uma primeira-dama tão alheia aos acontecimentos quanto seu marido.
Os auxiliares e ajudantes de ordem do presidente fazem o que bem entendem. Saem por aí sem autorização, pressionando agentes federais, tentando liberar os tais bens presos na alfândega. E o fazem apenas para seu próprio entretenimento. Levou um ano até que alguém o informasse do que estava ocorrendo. Presentes semelhantes haviam sido guardados na maior inocência por esse chefe de Estado. Afinal, eram só presentes. Mimos de centenas de milhares de Reais.
No meio disso tudo, o tal sujeito bem intencionado tinha em mente uma única preocupação: preservar a imagem do Brasil no exterior. Afinal, o que seria da nossa diplomacia se viesse a público a notícia de que joias doadas pelo governo da Arábia Saudita foram apreendidas pela Receita Federal no aeroporto? E, pior ainda, se fossem a leilão?
Algo inaceitável, na visão desse presidente, sempre tão preocupado com o que se fala do Brasil lá fora. Muito mais grave do que fazer piada sexista com a mulher do presidente da França. Bem mais grave que ministro de Estado fazendo piadas de teor racista com o sotaque dos chineses, nossos maiores parceiros comerciais. Um colar preso na alfândega seria uma vergonha internacional.
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