Como o fogo amigo levou Doria a vestir o figurino anti-Lula
Mobilização de parte do PSDB contra candidatura do governador põe pressão sobre a campanha e força subida de tom
João Doria já prevê faz tempo que as eleições deste ano serão de briga pesada. Mas ninguém no grupo do governador paulista contava em se deparar com uma resiliência sem limites da turma que lhe faz oposição dentro do partido. Sem conseguir calar os insatisfeitos e com dificuldades de decolar nas pesquisas, o governador veste a partir de agora o figurino anti-Lula.
Ontem, nas redes sociais, Doria partiu para o ataque. Criticou a proposta de Lula de regular os meios de comunicação, disse que quem flerta com a censura compactua com autoritarismo e a ditadura. Na essência, o tucano colocou o petista no mesmo balaio que até então era usado para as críticas do governador ao presidente Jair Bolsonaro.
Doria sempre apostou no controle das instâncias partidárias para enquadrar os insatisfeitos. Venceu as prévias contra Eduardo Leite, trouxe para perto o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, e conseguiu enterrar o processo de renovação da direção partidária ao aprovar na Executiva Nacional a extensão dos mandatos de dirigentes. Um problema é que não entrava nessa conta o assédio feito pelo PSD a Eduardo Leite, colocando na mesa a possibilidade de uma candidatura presidencial.
Esse aceno ressuscitou a movimentação do grupo que apoiou o governador do Rio Grande do Sul nas prévias e validou a retomada do discurso sobre trocar o candidato à Presidência se Doria continuar empacado nas pesquisas. Um movimento que culminou no jantar ocorrido no início desta semana na casa do ex-ministro Pimenta da Veiga, que se discutiu uma nova estratégia para enterrar a candidatura de Doria.
Fato é que nem mesmo com o controle das instâncias partidárias foi possível esvaziar a oposição ao governador dentro do próprio PSDB. O time de Doria agora entende que a única saída é transferir esse clima de ringue de luta livre para fora do partido. Daí a decisão de partir para cima de Lula, para tentar atrair os votos de parte do eleitorado anti-petista que está em busca de uma alternativa. Senão, ficam criadas as condições para que se concretize o maior temor de quem tenta se firmar como terceira via: que esses votos acabem voltando para o presidente Jair Bolsonaro, consolidando de vez a polarização entre o presidente e Lula.
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