Como Bolsonaro fabricou um bode expiatório e uma cortina de fumaça
Demissão do presidente da Petrobras mascara a dificuldade do governo de dar sustentação ao seu discurso de campanha
O presidente Jair Bolsonaro confirmou a decisão de demitir o agora ex-presidente da Petrobras Joaquim Silva e Luna, num gesto que nada tem a ver com esforços para aliviar o rombo no bolso dos brasileiros. Numa tacada só, criou-se um bode expiatório para a ineficiência em conter a alta dos preços e uma cortina de fumaça para acusações de corrupção no centro de um dos ministérios mais importantes para o País.
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A demissão de Luna já era esperada desde o mega aumento dos preços anunciado pela Petrobras. Mas, não à toa, veio praticamente no momento em que o ministro da Educação, Milton Ribeiro, entregou sua carta de exoneração, detonado pela denúncia sobre um esquema de favorecimento de pastores evangélicos com a liberação de dinheiro público.
Assim, as notícias sobre a farra do MEC perderam espaço. E a troca de comando da estatal ganhou as manchetes. De quebra, ainda deu para esfriar a repercussão da trapalhada jurídica protagonizada pelo partido do presidente, o PL, que acionou o Tribunal Superior Eleitoral para evitar críticas ao presidente no Lollapalooza.
As demissões de Ribeiro e Luna apenas evidenciam um presidente decidido a jogar para a torcida e varrer para de baixo do tapete os problemas capazes de interferir em seus planos de renovar o mandato. Até porque o nome escolhido por Bolsonaro para comandar a Petrobras tem restrições quanto à forma como o governo poderia mexer na política de preços da estatal. Adriano Pires deixou isso claro em entrevista recente a VEJA, na qual declarou que torce para que Bolsonaro resista à tentação de uma intervenção na empresa e de um congelamento dos preços dos combustíveis.
Em geral, o mercado espera a continuidade da mesma política que custou o cargo a Luna, embora haja um temor de ingerência na Petrobras. A diferença é que, agora, Bolsonaro tem uma narrativa (para usar um termo tão caro ao bolsonarismo) para lançar aos seus seguidores nas lives em redes sociais: se a gasolina está nas alturas, ele não tem nada com isso.
Não é mistério para ninguém que Bolsonaro vinha apostando todas as fichas da sua reeleição numa recuperação da Economia. Vendeu o Auxílio Brasil como um remédio milagroso para reverter os efeitos da pandemia, investiu em obras em estados estratégicos e fez inúmeras promessas de retomada do crescimento.
Mais recentemente, o governo preparou um novo pacote de bondades para injetar dinheiro na economia e tentar compensar o cenário de estagnação. Mas, se não é possível encontrar uma solução imediata para o problema, ao menos encontra-se alguém em quem jogar a culpa.
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O problema é que, sem o discurso eleitoral da retomada, resta a Bolsonaro se apresentar como o anti-Lula, seu maior adversário até agora. É com esse objetivo que o presidente repete à exaustão que seu governo é livre de corrupção. Mas os pastores do MEC estão aí para contar história.