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O que o novo presidente da Petrobras pensa sobre o preço da gasolina

A VEJA, Adriano Pires disse esperar que o presidente Jair Bolsonaro "resista à tentação" de intervir na empresa

Por Felipe Mendes Atualizado em 28 mar 2022, 19h56 - Publicado em 28 mar 2022, 18h46

Sócio-fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), o economista Adriano Pires tem mais de 40 anos de experiência na área de energia. Muitos deles foram traçando pesquisas nos campos da economia da regulação, economia da infraestrutura, aspectos legais e institucionais da concessão de serviços públicos e tarifas públicas. Doutor em economia industrial pela Universidade de Paris XIII, Pires pode estar perto de atingir seu maior desafio na carreira: seu nome, um dos preferidos do governo de Jair Bolsonaro para assumir a Petrobras e substituir o general Joaquim Silva e Luna no cargo, foi confirmado na cadeira nesta segunda-feira, 28, pelo Ministério de Minas e Energia. Em entrevista concedida a VEJA este mês, Pires afirmou que Bolsonaro não deveria intervir na política de preços da empresa. “Eu espero e torço para que o governo Bolsonaro resista à tentação de intervir na Petrobras, porque esse seria o pior caminho, e resista a fazer políticas de congelamento de preços”, diz ele. “O congelamento dos preços seria uma tragédia.”

O governo poderia aproveitar os dividendos que recebe da empresa para fazer alguma determinada política de assistência social? Não só com os dividendos, mas também com os royalties e com as participações especiais. Há uma série de fatores que aumenta a arrecadação quando o petróleo está caro. O país perdeu a oportunidade de criar um fundo quando o barril, em abril de 2020, chegou a 20 dólares. Agora, a gente também tem que tomar uma providência. Não dá para ficar vendo a banda passar. Tem que tomar medidas típicas de períodos de excepcionalidades, como foi com o auxílio emergencial durante a pandemia para as pessoas de menor renda. Deve-se ter algum programa de subvenção direta para diesel e para o botijão de gás, algo que dure cerca de três meses, enquanto vai discutindo o assunto no Congresso para políticas mais estruturantes, como uma mudança tributária ou a criação de fundo. Não é bom aprovar leis em momentos de tanto barulho, com tanta turbulência, como é o que a gente está vivendo agora, mas algo precisa ser feito. Se eu fosse do governo faria um plano de subvenção direta parecido com aquele feito na época da greve dos caminhoneiros.

Desde o início do conflito entre a Ucrânia e a Rússia, o valor do petróleo disparou. A que se deve esse movimento? A Rússia é o segundo maior exportador e o terceiro maior produtor de petróleo no mundo, além de ser o maior exportador de gás do mundo. Isso tudo faz com que o preço de todas as commodities subam, o que gera impactos econômicos no mundo inteiro, como uma inflação cada vez mais crescente, além da alta dos juros. O preço do barril vem subindo desde 2021 por causa da retomada econômica no mundo e passou, em menos de um ano, de 40 dólares para 70 dólares. Antes da guerra, era normal falarmos do preço da commodity em torno dos 90 dólares. Acima disso, como está hoje, é o que podemos chamar de “efeito guerra” entre a Rússia e a Ucrânia, e não só uma crise entre a oferta e a demanda.

No Brasil, o governo entende que a Petrobras deveria abandonar o preço de paridade de importação (PPI), que se baseia no dólar e no valor internacional do barril da commodity. Como o senhor vê isso? O Brasil agora é um exportador de petróleo. No ano passado, a Petrobras exportou 1,2 milhão de barris por dia, a maior taxa para uma empresa do setor na América Latina. Hoje, para o Brasil e para a Petrobras, petróleo caro não deveria ser um problema, já que nós somos um país exportador. Isso é o que nos diferencia da época em que éramos apenas importador. Por isso que eu fico surpreso de o governo reclamar do preço alto do barril. O Brasil é o único país do mundo que exporta petróleo e que não gosta de preço alto. A Petrobras no ano passado deu um lucro de 106 bilhões de reais. ‘Eles’ [o governo] falam que é um lucro abusivo, mas não é. Precisam entender que o mercado de petróleo é um mercado cíclico. Quando o barril está alto, as empresas ganham muito, e quando o barril está em baixa as empresas ganham menos. A boa notícia é que o governo nunca tinha recebido tanto dividendo da Petrobras como em 2021, o que dá margem para o governo, se quiser, usar esse dividendo para fazer política pública. Isso é o que seria o correto. O cenário atual não é bom. Petróleo alto demais gera inflação, aumento de juros, dificuldade de retomada do crescimento econômico, mas a guerra é uma coisa que não vai ficar. Deve entrar numa normalidade maior e o preço voltar para os 90 dólares.

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Em um ano, a Petrobras perdeu 14 bilhões de dólares por segurar repasses de preços dos combustíveis. Importadores reclamam que isso pode gerar um desabastecimento… É um perigo. Se você fica com uma defasagem muito grande, as empresas param de importar. Quando isso acontece, há de fato um risco de um possível desabastecimento. E a Petrobras não pode mais fazer o que ela fazia durante o governo da Dilma Rousseff, que é importar o produto mais caro e vender mais barato para a população.

Como o senhor vê a possibilidade de intervenção na Petrobras por parte do presidente Jair BolsonaroNos últimos anos, o grande momento de intervenção foi durante o governo da presidente Dilma, quando fizeram um rombo no caixa da Petrobras avaliado em 40 bilhões de dólares, em valores da época, e a empresa contraiu uma dívida de 100 bilhões de dólares. Ali foi o grande auge da intervenção. No governo Michel Temer, a empresa começou a seguir a política da paridade de importação, corrigindo os preços em função do mercado internacional e da taxa de câmbio. Eu espero e torço para que o governo Bolsonaro resista à tentação de intervir na Petrobras, porque esse seria o pior caminho, e resista a fazer políticas de congelamento de preços. Pode-se até criar políticas públicas para esse momento de excepcionalidade, como um plano de subvenção, a mudança do ICMS, continuar discutindo reformas tributárias e também discutir com calma a criação de um fundo de estabilização. Se o caminho for o da intervenção vai ser um desastre para o país. O congelamento dos preços é a pior política possível. Sempre que se faz políticas de congelamento o resultado imediato é gerar um desabastecimento. E o desabastecimento de combustíveis no Brasil seria uma tragédia. A gente precisa entender que a Petrobras é uma empresa de economia mista, não uma estatal, e portanto ela tem de respeitar o acionista privado, e o governo deve usufruir da Petrobras através dos dividendos.

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