Centros de inovação impulsionam a economia urbana e tornam a rotina das cidades mais interessante e prazerosa
Nos últimos cinquenta anos, a paisagem criada por empresas voltadas à inovação seguiram o modelo do Vale do Silício: áreas corporativas isoladas, ligadas por extensas vias suburbanas acessíveis apenas por carro. Soma-se a isso pouca ênfase dada à qualidade de vida dos moradores e a falta de esforço em integrar os espaços destinados a trabalho, […]
Nos últimos cinquenta anos, a paisagem criada por empresas voltadas à inovação seguiram o modelo do Vale do Silício: áreas corporativas isoladas, ligadas por extensas vias suburbanas acessíveis apenas por carro. Soma-se a isso pouca ênfase dada à qualidade de vida dos moradores e a falta de esforço em integrar os espaços destinados a trabalho, moradia e lazer, cada um deles instalado num ponto diferente. Conforme os Estados Unidos deixam para trás a recessão enfrentada a partir de 2008, reflexos de um novo modelo de ocupação de empresas começa a surgir em sua geografia. São os chamados distritos de inovação, áreas onde empresas e instituições se unem a startups (empresas novas que buscam colocar no mercado produtos e serviços diferentes) e incubadoras. Basicamente, inovação é quando novos produtos, ideias, serviços, tecnologias ou processos criam demanda de mercado e soluções de ponta para os desafios econômicos, sociais e ambientais. Os distritos de inovação são os locais onde a inovação floresce. O tema mereceu um estudo recém- lançado do Instituto Brookings, centro de pesquisa sobre políticas públicas baseado em Washington (leia aqui entrevista publicada no blog com o vice-diretor Bruce Katz).
Ao contrário do modelo do Vale do Silício, em que tudo é espalhado e extenso, esses distritos são compactos, acessíveis por ônibus, bicicleta ou mesmo a pé, ou seja, não dependem exclusivamente do carro, e misturam residências, escritórios e comércio. Eles exemplificam uma tendência que tem transformado a economia, a criação de espaços urbanos e as relações sociais.
Em vez de morar num lugar ermo e passar boa parte do dia presas em congestionamentos, muitas pessoas optam por morar perto de onde trabalham. Com isso, fazem compras e frequentam restaurantes e bares e utilizam serviços instalados na vizinhança, o que intensifica seus contatos sociais. Essa dinâmica impulsiona a economia das cidades ao mesmo tempo em que as torna cheias de vida. Barcelona, Medellín, Montreal, Seul, Estocolmo e Toronto são bons exemplos de onde esse tipo de mudança está em curso.
Nos Estados Unidos, a mesma dinâmica pode ser vista em Atlanta, Baltimore, Buffalo, Cambridge, Cleveland, Detroit, Houston, Philadelphia, Pittsburgh, Saint Louis e San Diego. Outras localidades tentam replicar o modelo em regiões industriais abandonadas, caso de Boston, Brooklyn, Chicago, Portland, Providence, Seattle e San Francisco — esta última foi tema de post a respeito. Em vez de insistirem nos mecanismos tradicionais de revitalização, que passam por construção de moradias, de corredores comerciais e de estádios esportivos, essas cidades apostam nos distritos de inovação como forma de movimentar suas rotinas e tornar suas economias mais competitivas, a partir da criação de produtos, tecnologias e soluções de mercado. A estratégia passa por reunir setores e profissionais de diversas áreas como tecnologia da informação, biociência, energia e educação, impulsionando um desenvolvimento mais inclusivo e com altos índices de produtividade. É também uma forma de responder ao crescimento econômico lento, ao rigor no controle de gastos nacionais e a problemas fiscais locais, alguns dos principais desafios enfrentados pelas cidades que desejam crescer. A aposta em distritos de inovação mostra-se útil também para enfrentar a desigualdade social, a expansão urbana desenfreada e degradação ambiental. Essa nova geografia deve dar as cartas do funcionamento das metrópoles na próxima década.