SOCHI – Se em campo a seleção brasileira de Tite vai muito bem, obrigado, a mais alta cúpula da CBF vem dando um vexame atrás do outro. A esculhambação da cartolagem nacional está hoje personificada em Antônio Carlos Nunes de Lima, o coronel Nunes, que assumiu a presidência da entidade após o banimento de Marco Polo Del Nero. Em solo russo para acompanhar a equipe na Copa do Mundo, o ex-coronel paraense admitiu que jamais imaginou estar, aos 80 anos, no cargo que ocupa. E, totalmente despreparado, vem colecionando trapalhadas, uma delas com possíveis consequências políticas: uma “traição” ao voto conjunto da Conmebol para a sede da Copa de 2026.
Um dia antes do congresso da Fifa, Nunes esteve em Sochi para acompanhar o treino da seleção. Animou-se a conversar com um grupo pequeno de jornalistas e, em menos de dez minutos, deu um verdadeiro show de desconhecimento: confundiu o Mar Vermelho com Mar Negro, disse que o Brasil quebraria um tabu de nunca ter ganhado uma Copa na Europa (o primeiro título, em 1958 foi na Suécia) e constrangeu a todos ao chamar Michel Platini, um dos grandes jogadores de sua geração e banido do futebol como cartola, de “aquele menino francês”.
Também comentou sobre o fim “daquela URSS”, se disse íntimo do presidente da Fifa, Gianni Infantino, e exaltou seus feitos de quando era cartola do Paysandu – “carreguei aquele clube nas costas.” Desconversou sobre Del Nero, banido do futebol por suspeitas de corrupção. “Não temos conversado ultimamente.” Tudo bastante constrangedor, mas nada que fosse digno de nota, até pela pouca relevância do cartola alçado à presidência por uma manobra política – foi escolhido vice-presidente por ser o mais velho e, de acordo com as regras da CBF, assumir em caso de afastamento de Del Nero.
Tabela completa de jogos da Copa do Mundo de 2018
Mas nesta quarta-feira, o despreparo do coronel tomou maiores proporções em Moscou. Ao contrário do que havia dito aos próprios jornalistas na véspera, ele não votou na candidatura da América do Norte (Estados Unidos, México e Canadá), que venceu e será sede da Copa de 2026. Preferiu o derrotado Marrocos. Questionado por jornalistas presentes, mostrou-se surpreso. Não sabia que o voto de todas as confederações seria aberto e revelado instantes depois pela Fifa. Depois justificou, dizendo ter simpatia pelo Marrocos. “Os Estados Unidos já sediaram uma vez, né? O México vai para a terceira Copa. O Marrocos nunca foi sede de uma Copa. Então, por isso, fiz essa escolha”, disse, na zona mista.
O Brasil será sede da próxima Copa América e a “traição” ao bloco sul-americano certamente não será bem-vista nas próximas reuniões. É bem provável que dirigentes e assessores da CBF peçam que sua maior autoridade, ao menos em teoria, adote um tom mais discreto assim que a Copa começar.