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Por Coluna
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Os caminhoneiros e a dependência em rede

Há um pacto de silêncio em torno da reforma de emergência que se faz necessária no Brasil que atravessa os dois polos ideológicos

Por Fernão Lara Mesquita
Atualizado em 30 jul 2020, 20h26 - Publicado em 1 jun 2018, 16h42

Fernão Lara Mesquita (publicado no Vespeiro)

Para quem lê este país pela imprensa e pela televisão e é assim, ainda, que todo país vê sua “persona” institucional porque não há outra maneira de fazê-lo nada parece fazer sentido. Essa perplexidade é que explica a balbúrdia das redes. Mas, quando se põe o pano de fundo real em tela tudo se torna crua e perfeitamente lógico.

Há um pacto de silêncio em torno da reforma de emergência que se faz necessária no Brasil que atravessa os dois polos ideológicos e “irmana” todos os partidos. E a imprensa tem feito menos do que deveria para expô-lo. Faz todo o sentido essa barreira de silêncio porque, situação ou oposição de turno, as chamadas “fontes” do debate nacional são os poderes estabelecidos e essa reforma, uma vez posta para andar, ou vai à questão de fato e muda definitivamente o poder de dono no Brasil, ou continua dando um passo para a frente e dois para trás, como vem acontecendo desde o minuto seguinte à proclamação da República que nós nunca instituímos de fato.

Continuamos feudais. Um único grupo, graças “a el-rei”, abocanha ano após ano, faça chuva ou faça sol, uma fatia maior de um PIB minguante. O resto é ladeira abaixo e em velocidade dobrada porque, a cada degrau que o PIB desce, a casta privilegiada precisa galgar um para voltar para onde estava e mais um para se colocar acima do ponto alcançado no ano anterior, como manda a lei que ela mesmo escreveu para si.

Essa excepcionalidade ulula.

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Partindo de um patamar de desigualdade já muito alto, o PT passou três mandatos inchando e mandando inchar morbidamente as folhas de pagamento do Estado. E isso gerou a onda multiplicada que vem desaguando, com os salários inflados ao pico máximo, na conta das aposentadorias públicas. A necessidade de funcionários ativos médicos, professores e principalmente policiais redobra exponencialmente, porém, à medida que a miséria resultante do avanço da “privilegiatura” sobre a riqueza nacional minguante esgota a economia privada e aumenta as carências do povo.

Qualquer raciocínio sobre os movimentos no tabuleiro do Brasil que não considere esse dado no ponto de partida e no ponto de chegada aprofunda a confusão reinante. Só a visão do contexto pode dar um foco ao debate nacional e um horizonte de chegada para balizar tanto a ação dos governos quanto as escolhas dos eleitores. Os relatos do dia, no entanto, são invariavelmente feitos sem considerá-lo. Há quem chegue a esvoaçar por cima da verdade, mas ninguém pousa decididamente nela.

Com o País no limite, a mentira é o último ponto de contato da “privilegiatura” com terra firme. O último obstáculo periclitante que separa o Brasil de uma nova era. Mas sem esse horizonte bem definido saltamos de casuísmo em casuísmo, o que, em vez de unir, desalinha o País. Tira-lhe o foco. Apela ao pior lado do bicho-homem, que é o do salve-se quem puder.

Foi o que aconteceu com a greve dos caminhoneiros. Ela começou como um sucesso de público em função da exasperação geral com a velocidade com que dobrou a conta da “tanqueada” de todos nós. Mas sem um horizonte para nortear, fosse a reivindicação, fosse a satisfação oferecida, esta pôde, mais uma vez, excluir o Brasil… com a anuência do Brasil, este estranho país da “dependência em rede” onde tão poucas bocas abocanham o privilégio, mas tantos rabos/cúmplices se mantêm indiretamente presos por ele num silêncio cúmplice.

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Vence quem grita mais alto? Desde sempre. Só que desta vez quem gritou mais alto não foi o gritão de sempre, que, no entanto, é cínico o bastante para tomar carona no grito de quem quer que seja desde que contribua para empurrar o País para o desastre desejado. Mas aquela esquerda dos nossos Maradonas sem cocaína, que afirma que o problema da Venezuela é “haver uma oposição a Nicolás Maduro reacionária e vendida aos Estados Unidos” que, portanto, merece os tiros que leva, não é mais o problema. O País já lhe deu o que merece. Não nos salvará, tampouco, a mera ação policial contra a corrupção. Ela contribui para um futuro menos exposto, mas só pesará decididamente a nosso favor se e quando o resto do que precisa acontecer acontecer.

Quem quiser que se iluda com a “sede de justiça” dos que vazam para a imprensa os dossiês de financiamento de campanha de todo brasileiro eleito pela lei que elegeu todo brasileiro eleito, se ele não fechar posição a favor dos privilégios da “privilegiatura”. Quem quiser que compre as lágrimas de crocodilo dos que barraram todas as reformas que respeitam a aritmética e agora “denunciam” os aumentos de preços e impostos que isso necessariamente implica. Não podem durar mais que as marés de alta os monopólios estatais “regidos por regras de mercado” num país onde quem embarca uma vez no Estado embarca para todo o sempre e a coluna de “custos” está constitucionalmente petrificada para cima, restando para os “ajustes” apenas e tão somente a que leva diretamente ao lombo dos miseráveis “acionistas involuntários” das “brases”. Não existe essa pretendida meia virgindade. Ou o Estado é polícia só ou, mais cedo ou mais tarde, cai no crime.

O tratamento de choque na esbórnia das aposentadorias públicas, onde o privilégio é lei e o abuso do privilégio é a regra, não é mais uma questão de escolha, é um imperativo de sobrevivência. O requisito obrigatório de qualquer eleitor consciente deve ser, portanto, antes de mais nada, exigir do seu candidato uma tomada de posição formal em relação a ela. E todos, entre esses, que já foram traídos por seus representantes um dia deveriam fazer mais que isso. Democracia é uma hierarquia na qual o povo manda e os governantes obedecem. E para que isso aconteça é preciso adotar um sistema que permita saber quem, de fato, é o representante de quem em cada instância de governo, o que só o voto distrital puro pode proporcionar, e, em seguida, armar a mão dos eleitores do poder efetivo de demitir seu representante sempre que se achar mal representado (recall) e desafiar suas leis se vierem enviesadas (referendo).

Todo o resto é isca pra pegar trouxa.

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