A cena se repete há três anos: é só Sérgio Moro aparecer num local público — um restaurante, uma sala de cinema, o saguão de algum aeroporto, um show de rock — para ser ovacionado por quem reconhece o rosto da Operação Lava Jato. Lula não dá as caras nesses lugares por considerá-los territórios hostis desde a vaia traumatizante que sacudiu o Maracanã na cerimônia de abertura do Pan-2007. Faz mais de dez anos que o antigo líder de massas só sai do esconderijo depois de certificar-se da mansidão da plateia escalada para ouvir outra lengalenga do chefão.
De costas para o Brasil real, um certo Instituto Ipsos acaba de divulgar uma pesquisa que manda às favas os fatos. Segundo as curvas desenhadas por sumidades da estatística, o índice que mede a desaprovação de Lula vem caindo enquanto segue subindo o que avalia o descontentamento com Moro. A colisão frontal entre a realidade e a selva de porcentagens me anima a sugerir, mais uma vez, a aplicação do Teste do Viaduto.
A fórmula é simples, barata e infalível. Num dia útil, sem aviso prévio, esquemas de segurança ou tropas de assessores, Lula e Moro apareceriam numa das extremidades do Viaduto do Chá, no coração de São Paulo. Nos minutos seguintes, misturados à multidão, o juiz que defende a lei e o réu viciado em espancá-la caminhariam em direção à outra ponta do cartão postal mais movimentado da maior metrópole brasileira. Como reagiria o mundaréu de gente inteiramente à vontade para aplaudir ou vaiar os concorrentes.
Lula já estará no lucro se não for socorrido por enfermeiros já no início da travessia e instalado numa UTI móvel encomendada pelos pesquisadores do IPSOS.