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O RETORNO ARRASADOR DE CELSO ARNALDO (parte 1): As duas metades de Dilma. Nenhuma faz qualquer sentido

CELSO ARNALDO ARAÚJO Há uma Dilma que, desde a campanha para suceder Lula e ao longo de seus dois anos na Presidência, só existe nesta coluna. Não se trata da supergerente com Ph.D em Brasil nem da intelectual amante das artes e da cultura que tem uma biblioteca na cabeça e uma pinacoteca num pendrive. […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 06h44 - Publicado em 5 mar 2013, 02h47

CELSO ARNALDO ARAÚJO

Há uma Dilma que, desde a campanha para suceder Lula e ao longo de seus dois anos na Presidência, só existe nesta coluna. Não se trata da supergerente com Ph.D em Brasil nem da intelectual amante das artes e da cultura que tem uma biblioteca na cabeça e uma pinacoteca num pendrive.

Não é também a primeira mulher presidente que, na grande mídia, só aparece dizendo coisas sensatas – é contra a miséria, a doença e a corrupção, é a favor da ética, da casa própria e do emprego para cada um dos 190 milhões de brasileiros, e um atendimento médico de Sírio-Libanês no posto de saúde de Belágua, o município mais miserável do Maranhão.

A Dilma que salta aqui, em cores e viva voz, sem disfarce, montagem ou edição, é a Dilma cuja capacidade de presidir um país como o Brasil, a sétima economia do mundo, é posta em xeque, gravemente, sempre que abre a boca. Sobre qualquer assunto. Qualquer.

Sua indigência verbal não é apenas vernacular, gramatical, sintática, lógica, metafórica, criadora – mas típica do pensamento rudimentar que certamente a precede e talvez justifique a má palavra.

Quando Dilma tem a palavra, ela nunca tem a palavra. Da saudação à despedida, qualquer grupo de palavras pinçado da fala de Dilma impediria uma pessoa, se hipoteticamente levados a sério os critérios de formação e mérito, a assumir um cargo de quinto escalão no governo. Numa empresa de porte médio, não resistiria 30 segundos diante do encarregado do RH. Falando uma espécie de patois brasileiro, em nada consoante com a língua culta ou média do país que preside, Dilma constrói raciocínios que seriam considerados desqualificadores numa redação de segundo grau.

Ela teve dois anos para, em intensivo treinamento prático, dar uma burilada no seu pífio raciocínio presidencial – que, em última análise, é a voz do Brasil. Não só piorou muito como, agora de volta ao palanque pela reeleição, readquiriu tiques da candidata improvável – com o dedo em riste e a palavra em chiste.

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Em João Pessoa, na entrega de 526 unidades do Minha Casa-Minha Vida, essa nossa Dilma foi simplesmente assombrosa – começando pelos intermináveis “comprimentos” a autoridades que acabaram de chegar ao local junto com ela, à “nação potiguar” representada na cerimônia por meia dúzia de indígenas e ao grupo folclórico Nova Geração. Que, segundo a presidente, “cantaram aqui para nós, encheram nosso coração de alegria e nos lembraram do nosso ritmo, esse ritmo fantástico que ninguém escuta e consegue ficar parado”.

Fantástico mesmo, seja qual for esse nosso ritmo – ninguém fica indiferente a ele, mesmo não escutando nada.

É claro que nenhum discurso de Dilma sobre o Minha Casa-Minha Vida seria um discurso de Dilma sem ela tentar explicar para que serve uma casa – como se sabe, uma instituição criada em 2003 por Lulincoln. A casa de Dilma é sempre um palacete dialético:

“Além da casa onde essas famílias irão morar, a casa ser um lar, um lugar onde a gente cria filho, recebe amigo, conversa, toma uma cervejinha, faz uma festinha, a casa onde a gente volta do trabalho e descansa, a casa também representa cidadania. E o que é que é cidadania? Cidadania é o Estado brasileiro olhar para os moradores do Minha Casa-Minha Vida e querer que as casas sejam de qualidade”.

As casas do tempo de FHC não eram assim.

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“Sabe qual é a diferença dessas moradias pra algumas outras que se fizeram no Brasil? Eu vou dizer para vocês qual é: essa moradia não é…”

Bem, Dilma não conseguiu dizer o que essa moradia não é. Faltaram as palavras certas. E apareceram estas:

“Eles, os que recebem a casa, não devem nada a ninguém. Nada a ninguém. Não devem à presidenta da República, não devem ao governador, nem devem ao prefeito, nem ao empresário que fez”.

Talvez fosse preciso explicar aos 526 contemplados do Residencial Jardim Veneza que se trata de uma linguagem figurada – o morador fica devendo à Caixa. Mas, espere: as casas são gratuitas e o comprador, segundo Dilma, ainda leva um bônus em dinheiro:

“A relação é assim: o dinheiro sai do governo federal e vai para a Caixa Econômica. Da Caixa Econômica, a Caixa contrata um empresário. Mas o empresário para receber tem que ter um morador, porque é para o morador que o dinheiro é destinado. É para o morador. É para quem mora ali, que é dono do dinheiro”.

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Os milhões de unidades do Minha Casa-Minha Vida seguem essa lógica mirabolante – o único caso no mundo em que o adquirente de um imóvel, como se o tivesse comprado de si mesmo, recebe também seu valor equivalente em dinheiro. Daí o sucesso do programa, que vai longe:

“Nós não descansaremos até que o último brasileiro tenha acesso a uma moradia digna”.

Parece exagero? Não, para Dilma:

“Por isso é que a gente conta a história: olha, nós já entregamos 1 milhão, mas não fica preocupado, nem nervoso, nem nervosa. Nós estamos construindo agora mais 1 milhão, em torno de 1,3 milhão de casas e faltam (sic) contratar 1,1 milhão. Então as pessoas podem ter certeza de que elas serão atendidas. E vamos supor que a gente chegue a 1 milhão e 100 e não deu conta de tudo. Aí nós contrataremos mais outro milhão. E assim nós iremos garantir que a população deste país tenha uma coisa que é fundamental: tenha um teto sobre sua cabeça. Mas que um teto, tenha um lar. E que nesse lar as famílias sejam felizes”.

Fácil, assim. E casa de Dilma é, sem sombra de dúvida, um substantivo feminino – não comum de dois.

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“Nós focamos o recebimento dos recursos na mulher. Por que nós focamos na mulher? É alguma (sic) preconceito contra os homens? Não, não é! Até porque eu sempre digo: metade da população é mulher, a outra metade é filha dessa metade. Portanto, todo mundo em casa”.

Como? Analisemos a sociobiologia reprodutiva da presidente Dilma. A primeira metade é mulher. A segunda, homem. Essa segunda metade, essencialmente masculina, é filha da primeira. Ok. Mas, se não foi por geração espontânea – talvez um novo projeto do governo Dilma – a segunda metade é filha mas também é pai da primeira metade, com exceção dos que são pais de si mesmos, dentro da mesma metade. E mães da primeira metade, além de serem mães da segunda metade, também são mães de meninas da mesma metade, já que na segunda metade só há homens.

Não entendeu? Não se culpe, pertença você a qualquer uma das metades ou seja apenas uma cara-metade. Nem o pessoal da Presidência parece ter entendido – no vídeo editado para o Blog do Planalto, essa luminosa passagem do discurso foi eliminada. Mas se mantém no áudio com o discurso integral. Como diz Dilma, no fim das contas está todo mundo em casa.

Uma dúvida: a primeira presidente mulher defenderá sempre, exclusivamente, a primeira metade? Ou, quando lançar um novo programa de prevenção do câncer da próstata para a segunda metade, dirá, para ressaltar a importância da clientela-alvo, que metade da população é homem e a outra metade é filha dessa metade?

Faz sentido? Ou só metade?

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Assombros do próximo capítulo:

*A Bolsa-Cerveja de Lula

*As incríveis crianças que não sabem se cuidar sozinhas

*O curso para tratador de doentes

*A visita a uma obra chamada Vertentes Litorâneas que não se chama Vertentes Litorâneas

*Brasileiro: um povo capaz das maiores e mais instantâneas intimidades

*As pessoas, na rua, quando veem Dilma, segundo Dilma: “Ói ela!”

Vídeo editado pelo Planalto:

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=_sNq12q45Tw?feature=oembed&w=500&h=375%5D

Audio, na íntegra:

https://www.jornaldaparaiba.com.br/polemicapb/2013/03/04/podemos-fazer-o-diabo-na-hora-da-eleicao-diz-dilma/

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