O doutor Roberto Gurgel acompanhou com expressão de primeiro da classe a aula de Direito improvisada pelo presidente Lula em 22 de julho, quando virou procurador-geral da República. Quem ocupa um cargo daqueles, ensinou o chefe onisciente, “tem a obrigação de agir com o máximo de seriedade, não pensando apenas na biografia de quem está investigando, mas na biografia de quem também está sendo investigado”.
Preste atenção em quem está de cada lado, saiba direito com quem está falando, berraram as entrelinhas da mensagem. Na estreia no Supremo Tribunal Federal, Gurgel pareceu não ter captado o espírito da coisa. Em vez de acusar Francenildo Costa e defender Antonio Palocci, ficou a favor de quem Lula qualificou de “um simples caseiro” e contra o ex-ministro que, abstraída a compulsão para o estupro de contas bancárias, tem biografia.
Redimiu-se nesta quarta-feira, no início do julgamento de Cesare Battisti. Quem testemunhou a absolvição de Palocci reconheceu o procurador-geral na figura em desvantagem na guerra contra a balança, barba branca e rala, rosto rechonchudo de segundo colocado num concurso para a escolha de outro bebê Johnson. Quem só o viu nesta quarta-feira na tela da TV Justiça imaginou que ali estava mais um advogado do bandido. Como Antonio Fernando de Souza recomendou o deferimento do pedido de extradição, inverteu a rota percorrida pelo ex-procurador que enquadrou os 40 do mensalão e foi à luta.
A sessão era pura perda de tempo, comunicou aos ministros. Em janeiro, Battisti foi promovido a asilado político e delinquente de estimação de Tarso Genro. “Parece não ser possível ao STF rever a concessão do refúgio”, advertiu. Em seguida, transformou Lula na última instância do Judiciário: “Caso o Supremo autorize a extradição, esta apenas ocorrerá por decisão do presidente da República. O tema é pacífico na jurisprudência do tribunal”.
Foi mais que a segunda apresentação no palco predileto dos astros do mundo jurídico. Foi o lançamento da candidatura de Gurgel a ministro do STF. É moço, tem muito tempo pela frente, não custa esperar. Esperar até Dilma Rousseff assumir o governo. Ou até Lula voltar.