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Luciana Genro, a leviana, aproveitou o assassinato de Eduardo e a morte de Thomaz para mobilizar a patrulha do luto

VALENTINA DE BOTAS “Meu filho Absalão! Absalão, meu filho!”, me lembro do lamento denso do rei Davi, em Samuel II, dilacerado pelo assassinato do filho que tentara matá-lo para lhe tomar o trono. Mesmo não vencendo o pai, Absalão destruiu-lhe um pedaço da alma, tanto que a ruína e morte de Thomas Sutpen, o protagonista […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 01h42 - Publicado em 5 abr 2015, 02h35

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VALENTINA DE BOTAS

“Meu filho Absalão! Absalão, meu filho!”, me lembro do lamento denso do rei Davi, em Samuel II, dilacerado pelo assassinato do filho que tentara matá-lo para lhe tomar o trono. Mesmo não vencendo o pai, Absalão destruiu-lhe um pedaço da alma, tanto que a ruína e morte de Thomas Sutpen, o protagonista do magnífico romance de Faulkner “Absalão! Absalão”, efetivadas pelos próprios descendentes, prenunciam-se na repetição do nome do filho do rei hebreu.

“Deixa, Deus, eles viverem”, me lembro de pais e mães na UTI neonatal onde minha filha permaneceu quase três meses porque nascera na improbabilidade do quinto mês de gestação. Enquanto não automatizam o ato da respiração, bebês prematuros se esquecem de respirar e ficam lá, paradinhos. Lindos, minúsculos e grandiosos. E os pais só pedindo: “Deixa, Deus, eles viverem”. Aí, voltam a respirar como quem leva um susto.

Alguns Deus não deixou; e tudo ficava impossível neste choque insuportável entre o que é pó em nós e a face horrenda do eterno. Me ausentei do mundo para ver minha filha cada dia de todos aqueles dias. A pequena audaz me dava colo nas 12 horas diárias que eu permanecia na UTI: eu vigiava Deus. Saudável e doce, ela é a memória diária de um milagre; não é a única filha que tive, mas é a única que tenho. O que me faz pensar mais de perto nos pais que conhecem essa dor absoluta e subversiva.

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As mortes de Thomaz e Eduardo, uma num acidente estúpido – será que a única forma de testar um helicóptero é fazê-lo voar? – e a outra numa selvageria, reforçam que talvez só os indecifráveis propósitos divinos possam harmonizar o sublime (o milagre) e o nefando (a tragédia) que nos tangem neste mundo, embora ambos necessitem do humano para acontecer.

Desnecessário é o desrespeito de Luciana Genro aos mortos que, à sombra da pilha de cadáveres que a ideologia que ela rumina produziu, usou o assassinato de Eduardo para exercer a patrulha do luto: quer saber por que não lamentar a morte de Eduardo. Ora, todos lamentamos uma barbaridade dessas. Leviana, sugere que o preconceito de classe sepulta Eduardo no esquecimento.

Duplamente estúpida – por ser estúpida mesmo e por achar que ninguém percebe –, confessa involuntariamente que só se lembrou de Eduardo pela asquerosa conveniência ideológica, afinal quando foi que lamentou quaisquer dos incontáveis eduardos anteriores a este? O texto do nosso Reynaldo disse tudo e fico pensando nos pais cujos filhos se vão. Em geral, orgulhamo-nos e ficamos felizes com o êxito dos filhos, claro; mas é em algum insucesso, em alguma vulnerabilidade deles que nosso amor parece maior.

Vai ver é aí que nosso amor pelos filhos se exacerba e realiza a completa potência dele. Seja o pai um rei ameaçado, plebeus numa UTI, o governador ou um ajudante de pedreiro. Mas todo esse amor não os poupa do abismo que tocaia a todos e quando um filho morre, talvez o mesmo amor que nos leva ao limite do humano possa nos fazer confiar nos planos de Deus e, então, vislumbramos a face sublime do eterno no milagre de conseguir ir em frente.

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