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Carlos Alberto Sardenberg: Uma esquerda neoliberal

Publicado no Globo Tem uma teoria, tipo conspiratória, que diz o seguinte: governantes de esquerda são mais adequados para fazer reformas ortodoxas, daquelas que mexem com direitos trabalhistas e sociais (Previdência, pensões, abonos etc.).

Por Augusto Nunes Atualizado em 30 jul 2020, 23h47 - Publicado em 24 dez 2015, 14h10

Publicado no Globo

Tem uma teoria, tipo conspiratória, que diz o seguinte: governantes de esquerda são mais adequados para fazer reformas ortodoxas, daquelas que mexem com direitos trabalhistas e sociais (Previdência, pensões, abonos etc.). A lógica, suposta, afirma que só um líder esquerdista tem moral para sustentar a necessidade de tais reformas junto aos sindicatos e movimentos sociais.

Se isso for verdade, então o novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, reúne as condições políticas para encaminhar as reformas que está prometendo apresentar no começo de 2016. Seu antecessor, o neoliberal e ortodoxo Joaquim Levy, teria esse pecado de origem. Por isso, tudo o que ele propôs foi rejeitado de cara pela ala esquerda do governo Dilma.

Por essa suposta lógica ainda, Barbosa também tem condições de realizar o mesmíssimo ajuste fiscal tentado por Levy. De novo, uma questão de confiança. Os sindicatos e movimentos sociais haverão de entender que Barbosa é de casa.

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De modo que caímos neste paradoxo: Dilma tirou o neoliberal Levy e colocou o desenvolvimentista Barbosa para fazer exatamente a política ortodoxa que derrubou o primeiro.

Pode?

Costuma-se apresentar como exemplo prático dessa teoria o primeiro governo Lula. E quer saber? Lula foi de fato muito ortodoxo na política econômica. Fez um forte superávit primário (Levy era secretário do Tesouro), deu autonomia para o Banco Central subir juros e até iniciou uma reforma na Previdência do funcionalismo público.

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Também se costuma citar o governo de Felipe Gonzáles na Espanha pós-franquista. Do Partido Socialista Operário, Gonzáles desenvolveu um programa que colocou seu país na rota do moderno capitalismo europeu.

Se estivéssemos na Europa, poderíamos até colocar Fernando Henrique Cardoso como outro exemplo. Vindo da esquerda social-democrata, FHC promoveu um espetacular conjunto de reformas, com amplas privatizações, austeridade nas contas públicas, abertura comercial e mudanças microeconômicas também na direção de um capitalismo moderno.

Ocorre que, por aqui, a maior parte da esquerda não acompanhou esse movimento de FHC e permaneceu com as velhas ideias populistas e estatizantes. Lula assumiu essa esquerda — e se elegeu atacando o neoliberalismo do “sociólogo das elites”. Para governar com a mesma política econômica que atacava.

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Mas, reparem, só no primeiro mandato. Tão logo sentiu-se seguro, Lula jogou fora a herança ortodoxa e lançou as bases da chamada “nova matriz” que seria largamente aplicada no primeiro mandato de Dilma Rousseff.

Essa a diferença entre Lula, de um lado, e Gonzáles e FHC de outro. Estes dois últimos efetivamente mudaram seu modo de ver a sociedade e a economia. Convenceram-se da superioridade prática do capitalismo e da iniciativa privada para construir riqueza. Entenderam que o Estado pode agir em favor da igualdade social, mas no limite do orçamento equilibrado. Ou seja, que distribuir benefícios torrando dinheiro público, e aumentando a dívida, termina por gerar a inflação que come a renda dos mais pobres.

A partir daí, foram dois excepcionais líderes que convenceram os eleitores e os políticos da necessidade e da oportunidade das reformas. Sempre pela via democrática.

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Lula foi ortodoxo por necessidade. Quando se elegeu, debaixo de enorme desconfiança, o ambiente econômico se deteriorou. A contragosto, engoliu a política econômica sugerida por Antônio Palocci para se sustentar no governo.

Com a ajuda de uma extraordinária bonança global, Lula decolou. Quase ganhou uma estátua no FMI. Era o líder de esquerda mais moderno, com a política social do Fome Zero e a ortodoxia econômica.

Inebriado, e reeleito, Lula resolveu então fazer as coisas de seu jeito. E tinha uma verdadeira esquerdista a seu lado. Como ministra, Dilma Rousseff ajudou Lula a enterrar a ortodoxia de Palocci e iniciar a “nova matriz” — o Estado comanda a economia, distribui dinheiro para os pobres e concede crédito barato para os empresários escolhidos. Distribui vantagens e recursos para os sindicatos e movimentos sociais, enquanto abre os cofres para que os partidos se financiem com dinheiro das estatais e obras públicas. De certo modo, o modelo compra todo mundo.

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Tudo isso para dizer o seguinte. Dilma chamou Levy na abertura de seu segundo mandato por necessidade. Estava na cara que a economia naufragava e começava a afundar suas bases políticas. Mas a presidente nunca admitiu que isso acontecia por causa de sua política econômica. E nunca pretendeu mudá-la.

Levy era para dar uma rápida satisfação ao mercado, não para fazer algo. Por isso, as iniciativas do ministro neoliberal eram sabotadas por ela mesma e seu pessoal à esquerda.

Como pode imaginar que o mercado compraria essa manobra?

Ou seja, Dilma agora voltou às origens. Não colocou um esquerdista para fazer uma política ortodoxa. Colocou Barbosa para reaplicar a nova/velha matriz, enquanto diz outra coisa. Não vai rolar.

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