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Assembleísmo: Especialistas consultam amadores

Especialistas perguntam a amadores como deve ser resolvido um determinado problema de cuja solução nem eles nem os consultados têm a menor ideia

Por Deonísio da Silva
Atualizado em 21 out 2018, 11h42 - Publicado em 21 out 2018, 11h23

Deonísio da Silva

O poeta Olavo Bilac exclamou: bendito seja quem “descobriu a Esperança, a divina mentira,/ Dando ao homem o dom de suportar o mundo”.

Os antigos gregos desconfiavam da Esperança. Ela é um dos males do mito da Caixa de Pandora. Mas por que a Esperança seria um mal? Porque ela podia enganar os homens acerca do futuro.

Pode ser difícil suportar o mundo, mas, difícil, mesmo, para os brasileiros, é suportar o Brasil, pois continuamos tendo problemas que apenas nós, dentre as grandes nações, temos.

Um destes males é o assembleísmo. Consiste em que especialistas perguntem a amadores como deve ser resolvido um determinado problema de cuja solução nem eles nem os consultados têm a menor ideia. Afinal, a autoridade por vezes chegou àquele posto por motivos inconfessáveis.

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Feitas as intermináveis reuniões, põem-se os palpites em votação, e a autoridade passa a cumprir o que prescreveu o palpite do palpiteiro vencedor.

Tem alguma possibilidade de dar certo? Nenhuma, é claro.

Foi no campo da educação que mais grassou este capinzal. Mas, para que a autoridade atendesse ao assembleísmo era necessário também que não lesse nada ou lesse pouco, desprezando experiências que tinham dado certo no passado.

Autoridades da Educação, na ânsia de melhorar os indicadores de qualidade, deram ordens para baixar o nível de exigências, com vistas a fazer com que os alunos fossem aprovados de qualquer modo.

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Mas estudos isentos demonstram que boa parte dos alunos não sabe nem ler, depois de concluído o ensino médio.

O primeiro país do mundo a exigir que todos fossem à escola, dando condições satisfatórias de ensino e de aprendizagem a professores e alunos, foi a Alemanha de Bismarck, portanto ainda antes da unificação. É claro que, se fossem consultados em assembleias, os pais não permitiriam que seus filhos abandonassem o trabalho, especialmente a lavoura.

No Brasil do século XIX, o poder público pouco fez pela Educação, como sempre. Mas os donos do poder preocuparam-se em resolver o assunto para eles, ao menos, como comprovam os anúncios publicados em jornais como o Estadão. Havia docentes altamente qualificados, até para trabalhar nas fazendas como professoras particulares.

Esta esperançosa situação aparece também no filme Lição de Amor, de Eduardo Escorel, resultado da adaptação de Amar, Verbo Intransitivo, de Mário de Andrade.

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Ainda assim, o povo continuava abandonado e sem educação. Duas revoluções do século XX tentaram desfraldar bandeira da Educação: a Revolução de 30 e a Revolução de 32.

De tentativa em tentativa, algumas muito generosas com o povo e de memorável lembrança, mas a maioria apenas pródiga em desperdiçar recursos já de si tão escassos  restou-nos pouco mais do que a esperança de mudar!

E ainda não mudamos. Para finalizar com Olavo Bilac, lembremos outros versos do célebre poema que abriu este artigo: bendito seja “o que o ferro forjou; e o piedoso arquiteto / que ideou, depois do berço e do lar, o jazigo; / E o que os fios urdiu e o que achou o alfabeto”.

Pois é, o alfabeto fez sua longa viagem a bordo das embarcações fenícias e, depois de várias escalas, aportou também ao Brasil. Mas ainda é utilizado por poucos.

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Sem letramento, o Brasil ficou para trás nas navegações da Galáxia Gutenberg.

E já em tempos de internet precisaremos ir além do letramento em Português, uma vez que é indispensável também o Inglês para que a nau brasileira singre por mares nunca dantes navegados.

Já é tempo de parar com a sempiterna choradeira de mais verbas para a Educação. O xis do problema parece outro: mais verbas para quê?

Se continuar o desperdício, que começa por remunerar autoridades educacionais pelo teto e professores pelo piso, o estímulo será para que o professor, se quiser melhorar de nível ou de vida, exerça algum cargo ou deixe de ser professor. Seus filhos, por exemplo, já não estão querendo a profissão dos pais…

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Este é, ao sentir deste modesto colunista, o indicador mais sério das graves enfermidades que afetam a Educação. Afinal, filhos de parlamentares estão mais do que nunca seguindo a profissão dos pais. Sim, há verdadeiros conglomerados familiares e religiosos em nossa vida política. Ser político e pastor, eis duas ocupações promissoras.

Mas ser professor, não! E, se quisermos de fato mudar, a referência solar da Educação é Sua Majestade, o Professor.

PS. Devo o título desta coluna a uma crônica de Sérgio da Costa Ramos.

*Deonísio da Silva
Diretor do Instituto da Palavra & Professor
Titular Visitante da Universidade Estácio de Sá
https://portal.estacio.br/instituto-da-palavra

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