Por Celso Arnaldo Araújo
Embora cobrindo desfiles para a Manchete por 20 anos, entendo de escola de samba ainda menos do que você.
Leio e ouço que o vencedor foi Roberto e não a Beija-Flor – o que é mais ou menos inevitável quando o enredo de uma escola é um astro da dimensão de RC, desfilando em carne e osso para os jurados.
Confesso, porém, que torci silenciosamente pela Unidos da Tijuca. Não vi muito mais do que a comissão de frente – e já lhe daria o grande prêmio pela jogada genial dos decapitados.
Mas passei a ser o porta-bandeira da Unidos da Tijuca ao saber que, quando a escola entrou na avenida, o “Rei” Roberto mandou desligar, incontinenti, todos os aparelhos de TV à disposição dos convidados de seu camarote na Sapucaí, dizendo-se “horrorizado” com as caveiras, os fantasmas e as alusões à morte no enredo “Esta noite levarei sua alma”. Nenhum dos convidados o contestou, é claro. É o jeito Rei de ser e impor bizarrices. Foi uma censura em petit comitê – mas, se pudesse, ele proibiria a transmissão do desfile da Unidos da Tijuca para todo o Brasil, como fez no recolhimento sumário de sua simpática biografia.
Roberto Carlos sofre de uma síndrome personalíssima e oportuníssima – é o TOCC, o Transtorno Obsessivo-Compulsivo Carola, também conhecido como TOC Opus Dei. A “pureza d´alma” que hoje o impede de cantar e sequer ouvir “Quero que vá tudo pro inferno”, de sua própria autoria, e de ficar em ambiente onde pessoas usem peças de roupa na cor marrom ou bege, mesmo um lenço de bolsinho de paletó, tem um componente doentio que se prolonga e se agrava há mais de 20 anos e já encheu as medidas. RC diz que se tratou — mas a cada dia fica mais esquisito, mais inquisitório, mais Torquemada.
Segundo a matéria de capa de Istoé Dinheiro da semana passada, Roberto Carlos tem um império empresarial que movimenta 350 milhões no Brasil e no Exterior. Mas ele faz negócios seguindo as leis do mercado, sem preconceitos, superstições ou crendices do século 14. Há mais de 30 anos, o atraso médio para início de seus shows é de duas horas, em qualquer casa do espetáculo do Brasil. O Rei implica com pontualidade – isso também dá azar.
A vitória da Unidos da Tijuca seria o início de uma boa terapia de choque para O Mais Esquisito dos Brasileiros.