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Augusto Nunes

Por Coluna
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‘Melhor assim’, de J.R. Guzzo

TEXTO PUBLICADO NA EDIÇÃO DE VEJA DESTA SEMANA J.R. GUZZO O presidente Nicolas Sarkozy assumiu em 2007 seu cargo, do qual pode estar se despedindo neste fim de semana, com a promessa de construir nada menos do que uma “nova França” ─ tarefa realmente ambiciosa, num país que está aí há uns 2000 anos e já viu […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 08h54 - Publicado em 9 Maio 2012, 12h37

TEXTO PUBLICADO NA EDIÇÃO DE VEJA DESTA SEMANA

J.R. GUZZO

O presidente Nicolas Sarkozy assumiu em 2007 seu cargo, do qual pode estar se despedindo neste fim de semana, com a promessa de construir nada menos do que uma “nova França” ─ tarefa realmente ambiciosa, num país que está aí há uns 2000 anos e já viu mais ou menos tudo o que poderia ter visto.

O resultado final de todos os seus esforços é que a França de hoje continua muito parecida, no bom e no ruim, com a de cinco anos atrás ─ e, pelo que tem ensinado a experiência, a França de daqui a cinco anos será muito parecida com a de hoje.

Não é, naturalmente, o que dizem os políticos, a mídia e quem se dedica a explicar como o mundo funciona; anunciam graves consequências para a França, a Europa e o alinhamento dos planetas no sistema solar caso neste segundo e decisivo turno das eleições presidenciais Sarkozy consiga se segurar em sua cadeira ─ ou se, ao contrário, tiver de passá-la para o candidato da oposição e favorito, François Hollande.

O primeiro é o campeão da “direita”, o segundo o campeão da “esquerda” e ambos pregam programas opostos entre si. Um garante que se o outro ganhar a França se transformará numa ruína praticamente imediata. Mas no mundo das realidades, seja quem for o vencedor, a França acordará nesta segunda-feira com a mesma cara que tinha na véspera.

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É uma boa notícia. A França de hoje tem muito mais do bom do que do ruim ─ e nesses casos o melhor que pode lhe acontecer é ir se segurando mais ou menos onde está.

O fato que realmente interessa, e do qual bem pouco se fala, é o seguinte: a França é um dos países mais bem-sucedidos do mundo. Tem problemas, claro, e alguns deles são até reais. Mas é um país de verdade, com 65 milhões de habitantes, e não um parque de diversões ─ e tem uma situação admirável para quem chegou a esse porte.

Não há um único buraco em seus 11 000 quilômetros de autoestradas de primeiríssima classe. O trem-bala existe; está sempre no horário, mantém velocidade média de 300 quilômetros por hora e sua rede já é cinco vezes maior que o trajeto entre Rio de Janeiro e São Paulo. A França tem um PIB per capita acima dos 42 mil dólares anuais.

Soube aproveitar com inteligência, rapidez e eficácia todo o avanço tecnológico das últimas décadas. Produz mais que o Brasil, num território equivalente a 6% do nosso e com um terço da nossa população. O salário mínimo é cinco vezes superior ao brasileiro, a saúde pública é impecável e a classe C já emergiu 100 anos atrás.

O cidadão francês não sabe o que é um assalto a mão armada, e não tem a menor ideia do que possa ser um arrastão em prédios de apartamento. Nunca ouviu falar em firma reconhecida, nem em desabamento de morros. Desconhece a existência de filas de ônibus. Rouba-se pouco, e jamais com prejuízo para os serviços públicos.

Os fiscais não extorquem: apenas fiscalizam. A soma de todas as suas dificuldades, considerando-se a vida como ela é, parece uma brincadeira quando comparada à de certos Brics, a começar pelo que é representado na letra B.

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A França, certamente, tem complicações sérias, como o desemprego e a invasão de seu território pelos pobres do mundo que, por bem ou por mal, querem emigrar para lá. Também tem uma paixão mal resolvida, e provavelmente sem solução, pelo “Estado forte”, a quem se atribui poderes comparáveis aos de Nossa Senhora de Lourdes. Já conseguiu ter um Ministério da Educação e outro do Ensino Público, e mantém curiosidades como o Ministério da Coesão Social ou o da Ruralidade.

Sarkozy, com o seu estilo MMA de governar, não conseguiu diminuir nenhum desses problemas; também não os tornou piores do que eram ao assumir. Hollande, que carrega o malvado apelido de “Pudim” e tem como principal destaque de sua carreira o fato de nunca ter se destacado em nada, parece o homem certo para repetir o mesmo trajeto.

Melhor para a França. Ela tem a sorte de não precisar dos seus políticos para conservar tudo aquilo que já soube construir.

Era costume dizer que um dos primeiros sinais da velhice aparece quando o indivíduo começa a ser chamado de “senhor” pelo médico (ou, pior ainda, pelo padre), e já trata um e outro de “você”.

François Hollande acaba de dar uma nova contribuição para as práticas populares de contagem do tempo. Em sua juventude, foi um fã entusiasmado de Jimi Hendrix ─ e, quando alguém que pode tornar-se presidente da França tem no seu álbum de ídolos alguém como Jimi Hendrix, ficamos avisados, mais uma vez, de que a vida está passando depressa.

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