Um novo quarteirão cultural, no formato de um complexo único com sete museus, sendo quatro deles dedicados ao vinho, seis restaurantes, bares, cafés e lojas está transformando a cidade do Porto, em Portugal, em um dos principais destinos do mundo para os amantes de vinho. Inaugurado em julho de 2020, durante o auge da pandemia, o complexo em questão, batizado de World of Wine, ou WOW, foi construído em um projeto de revitalização dos armazéns dedicados ao envelhecimento do vinho de porto que estavam abandonados ou decrépitos, às margens do mítico rio Douro, em Vila Nova de Gaia. O projeto do grupo The Fladgate Partnership, que também tem importantes marcas de vinho do porto, como Taylor’s e Croft, foi liderado pelo inglês Adrian Bridge e teve investimento de 110 milhões de euros.
Quando criou o quarteirão cultural, a ideia de Bridge era aumentar o tempo de permanência dos hóspedes no hotel cinco estrelas do grupo, o The Yeatman. “Voltamos a era dos viajantes, que são diferentes dos turistas. Os turistas vão ao destino apenas para receber o que ele oferece, como um bronzeado, uma praia, um bom restaurante. Os viajantes buscam o conteúdo, o que se pode aprender, quais as experiências esse destino pode dar a ele”, disse ele à coluna AL VINO. Bridge garante que não teve referências para criar o quarteirão cultural, que não há nada parecido com o Wow no mundo. “Afinal a City du Vin (em Bordeaux) tem apenas um museu, um bar, um restaurante e lojas”, compara.
No entanto, no final de novembro, quando essa colunista estava por lá, ele havia sido convidado para uma conversa em Verona, na Itália, onde em breve um novo complexo cultural dedicado ao vinho deve surgir. Ao que parece, o Word Of Wine tornou-se referência para os demais destinos de vinho.
EXPERIÊNCIA IMERSIVA
Um dos museus é o Wine Experience, que conta de maneira imersiva e didática todo processo de vinificação desde a plantação até a mesa. Uma Disney para entendidos e uma experiência deliciosa repleta de arte, tecnologia e integração para curiosos. Telas, jogos, barris gigantes mostrando o processo da fermentação fazem a visita de no mínimo uma hora de meia uma brincadeira.
Outro museu no melhor estilo do londrino Victoria&Albert Museum é o Bridge Collection, que tem como uma das principais atrações a coleção privada de 3 mil copos de Mr. Bridge, alguns com mais de 7 mil anos Antes de Cristo (AC). A coleção surgiu porque o empresário fazia jantares em sua casa em Vila Nova de Gaia e, ao final, servia vinho do porto em copos romanos, originais. Sim, todas as peças são originais, expostas em vitrines belíssimas com controle de unidade e temperatura, entre elas o cálice usado pelo então primeiro ministro britânico, Lord Liverpool, para celebrar a vitória contra Napoleão na batalha de Waterloo, em 1815. Muitas peças impressionam, entre a taça de jade, esculpida nos ateliers mongóis onde se misturava vinho e ópio. Antes de chegar ao museu, ela pertencia a Elsa Schiaparelli (1890-1973), estilista italiana e rival de Coco Chanel. Ou uma taça com hastes em metal que pertenceu a corte de Alexandre, o Grande.
O centro cultural exige mesmo fôlego. São 9 000 anos de história da bebida, em tours conduzidas por guias especializados e que falam diversas línguas. Guarde uma hora e meia para o passeio. O ingressos custam 20 euros, por museu. Mas é possível fazer pacotes: um tíquete com direito a dois museus, com validade por um mês, custa 34 euros, com três museus 45 euros e para cinco 65 euros.
Outro destaque do complexo é o Planet Cork, que conta história e usos da cortiça (proveniente do sobreiro, árvore portuguesa), além do Museu do Chocolate que promove degustação de vinhos e o doce com cacau de origens nobres, além de ter uma fábrica de chocolate toda envidraçada, em que se pode acompanhar toda a produção. Para finalizar, o divertido Pink Palace, em homenagem ao vinho rosé. Durante a visita, há cinco provas de estilos diferentes de rosados. O local tem uma estética Wes Andersen e partes instagramáveis, como um cadilac cor-de-rosa e uma piscina de bolinhas rosa, mas tudo sem perder a didática, para quem conseguir se manter concentrado nos aprendizados depois de 5 taças vinho.
ESCOLA DE VINHOS
O complexo conta ainda com uma escola de vinhos, que originalmente nasceu para uniformizar o serviço dos colaboradores do Wow. Em uma casa do século 19, onde era o antigo escritório da Croft, um produtor de vinho do Porto, estão três salas pensadas para ser escola, as janelas estão viradas para o norte para evitar o sol direto nas taças, luz fria amarela, que mantém o conforto sem interferir na cor do vinho. “Queremos ser o ponto de encontro entre o produtor e o consumidor, sempre de forma dinâmica e descomplicada”, conta José Sá, sommelier responsável pela escola.
Assim, quem quiser chegar na escola e fazer uma degustação de três brancos do Alentejo ou três tintos encorpados do Dão, pode-se fazer sem agendamento prévio, por 20 euros. Mas há diversos modelos de degustação, entre eles uma viagem de um dia por uma quinta icônica ou um passeio em iate de luxo pelo Douro com provas de vinho. E para quem sonha com a certificação inglesa WSET (Certified to Teach Wine & Spirit Education Trust Course), por lá é possível fazer o curso e a prova por valor bem mais acessível do que no Brasil. Enquanto o WSET nível 2 em São Paulo custa R$ 6325,00, por lá ele sai por 690 euros, ou cerca de R$ 3800,00.