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AL VINO

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As novidades, tendências e delícias do mundo do vinho sem um gole de “enochatismo”. Marianne Piemonte é jornalista, sommelière e empresária do mercado de vinhos.
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Deus salve o herege inglês que ousou criar um vinho do porto rosé

A impressionante batalha para lançar uma inovação na linha de uma bebida de estilo tricentenário

Por Marianne Piemonte
Atualizado em 15 jun 2024, 10h25 - Publicado em 15 jun 2024, 10h23

Segundo o famoso verso, pedras que rolam não criam limo, jamais. Parece simples, não? Bonito dizer que estar sempre em movimento é alinhar tradição à modernidade, mas imagine o tamanho da missão que deve ser atualizar estilos ou criar algo novo para um vinho produzido da mesma maneira desde 1692, uma instituição como é o caso do vinho do porto produzido pela Taylor’s. Há 300 anos, a bebida que foi batizada pelo nome da cidade de onde é exportada para o mundo, é produzida no Alto Douro, norte de Portugal.

Fortificado com aguardente vínica, um destilado de vinho branco, que é acrescentado ao mosto durante a fermentação, sua produção tem no encalço as regras do IVDP, o severo e carrancudo Instituto dos Vinhos do Douro e Porto. Entre outras coisas, ele define tipos de uva e tempo de barrica, além do percentual alcóolico para este ou aquele estilo do vinho português. Para criar algo novo dentro das amarras da tradição foi preciso muito tempo e investimento — além de doses generosas de ousadia e de criatividade.

O movimento começou lá atrás, em 1934. Atenta às transformações de mercado que já se podiam vislumbrar desde aquela época, a Taylor’s lançou  o primeiro Porto Branco, o Chip Dry. Enquanto os tradicionais tintos costumavam encerrar refeições, os brancos surgiram para serem oferecidos resfriados, como aperitivo acompanhados por azeitonas, amêndoas torradas ou batatas fritas. Pegou? Não. Até pouco tempo atrás, a variedade passava praticamente despercebida.

No entanto, graças aos mestres das mixologia, a fórmula misturando uma dose de porto branco a duas de água tônica alçou esse vinho a outro patamar. “Na Europa, principalmente na Bélgica, Holanda e Alemanha,  o drink recebeu o apelido de Chip-Chip”, conta o português Fernando Seixas, do Grupo Fladgate, responsável pela Taylor’s no Brasil. Em uma recente reunião com o grupo Dutty Free, dono das lojas dos aeroportos aqui do Brasil, ele contou que o responsável pediu que fosse comercializado o Chip Dry com urgência, porque não há voo que desembarque de Portugal com pelo menos uma centena de mulheres pedindo por ele.

A ODISSÉIA PARA O LANÇAMENTO DO PORTO ROSÉ

E como as pedras precisam continuar a rolar, o inglês Adrian Bridge, CEO do grupo Fladgate, começou há quase duas décadas uma batalha com os legisladores das regras do vinho do porto para um novo lançamento: um porto rosé. “Foram três anos de luta e só conseguimos mudar a legislação porque o produto era muito bom. Assim, em 2008 lançamos o Croft Pink”, conta. Esse vinho é um filhote da Croft, casa de porto fundada em 1588, que também pertence ao grupo Fladgate. Algumas manobras foram necessárias para viabilizar o produto. “Não podia estar escrito a palavra porto no rótulo e a legislação não dizia nada sobre a cor da garrafa”, conta Bridge, em seu bom português (de Portugal) com sotaque britânico. Por isso a saída à inglesa foi um rótulo com a marca o nome da cor em inglês e uma garrafa transparente. Bingo! Estava nas prateleiras mais uma inovação desse estilo tricentenário.

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Adrian Bridge, CEO do grupo Fladgate (Divulgação/VEJA)

A novidade foi um sucesso imediato na Europa e nos Estados Unidos. Nesses mercados, segundo Seixas, boa parte do público mais jovem entra no mundo do vinho pelos rosé. Eu tive oportunidade de degustar o Croft Pink acompanhando uma entrada de alheiras com ovo mole e um tempurá de legumes, no Barão Fladgate, do restaurante que faz parte do quarteirão cultural voltado ao universo do vinho no Porto, criado para o casamento de Adrian Bridge com a portuguesa Natascha Robertson. Foi um esplendor! Ele é intenso, mas vibrante e muito persistente, um dulçor equilibrado. Gostei, muito.

Mas o que me fez vibrar mesmo foi o ready-to-drink, uma latinha com um Pink Tonic, borbulhante e com apenas 5,5% de álcool, acatando a tendência que pede por drinks menos alcóolicos. O fabricante está batalhando há dois anos para viabilizar a entrada dessa bebida no Brasil. Parece que a briga desta vez é com o nosso Ministério da Agricultura, que não entende CO2 como um ingrediente da água tônica. Por isso, a única maneira de provar é atravessando o Atlântico — mas, no que depender da garra e história desses portugueses, em breve as latinhas de Porto Tonic e Pink Tonic estarão entre nós.

Em tempo: o Croft Pink chega ao Brasil pela La Pastina e o Taylor’s Chip Dry pela Qualimpor.

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