Com mais de meio milhão de pessoas em abrigos, 150 mortos e mais de 100 desaparecidos (dados atualizados até sábado, 18), o Rio Grande do Sul terá ainda pela frente o desafio de reconstrução. Não foi possível estimar até agora a conta exata dos estragos, mas já há uma rede de solidariedade em ação para atuar em várias frentes de ajuda, incluindo o comércio. Um dos focos atuais de preocupação é com a indústria de vinhos. Os rótulos gaúchos são feitos por cerca de 800 famílias da região Sul e a produção equivale à metade dos vinhos nacionais comercializados. Apesar do volume, os rótulos brasileiros ocupam apenas 10% do volume de vinho fino consumidos por aqui. O restante do mercado é dominado pelos importados.
A Emater/RS-ASCAR, órgão de promoção do desenvolvimento rural, calcula que cerca de 500 hectares de plantações de uva foram afetados. Embora seja um número nada desprezível, a verdade é que o estrago poderia ser bem maior, considerando-se os mais de 50.000 hectares de cultivo no estado. Se as chuvas tivessem caído um mês antes, o cenário seria de terra arrasada. “As colheitas já haviam sido feitas e as uvas para suco e vinho já estão nas vinícolas”, diz Daniel Panizzi, presidente da União brasileira de Vitivinicultura, a Unibra. Portanto, não há perigo algum de desabastecimento de produtos, como afirmam alguns posts fakes que circulam nas redes. “Não vai falar vinho brasileiro, não existe essa preocupação”, completa Panizzi.
Preocupa muito mais no momento a situação do enoturismo local. Cerca de 80% das vinícolas daquele estado dependem diretamente das vendas feitas a pessoas que visitam suas dependências. O movimento turístico ligado à cultura do vinho também representa a maior fonte de receita de municípios duramente atingidos, como Gramado. Por isso, a campanha #comprevinhogaúcho criada pelo portal Brasil de Vinhos ganhou tanta relevância e repercussão nacional. Vários chefs renomados engrossaram o apelo. A campanha tem como objetivo conectar vinícolas daquela região a consumidores de outros estados. Além de garantir renda para as famílias envolvidas na produção, o movimento nasceu para ajudar a manter os empregos de toda a cadeia que suporta esse setor.
Como é possível ajudar? Um caminho é pesquisar no site brasildevinhos.com.br, no qual há 221 vinícolas gaúchas catalogadas. “Ou então vá no Google e digite ‘vinho gaúcho loja online’ e entre no site de uma das mais de 800 vinícolas do Rio Grande do Sul. Escolha um rótulo, peça, pague e sorria: acabaste de colaborar para a reestruturação de uma das regiões mais belas do Rio Grande do Sul”, diz a jornalista Lucia Porto, uma das responsáveis pela campanha. E completa: “Pode demorar para chegar – certamente vai demorar para chegar, mas vai chegar”.
O desastre climático veio justamente num momento de ascensão dos produtores do Sul. Eles nunca foram tão reconhecidos pela qualidade, não apenas no Brasil. Atualmente, cerca de 50 países do mundo compram vinho gaúcho. Se você ainda é da turma que não descobriu o vinho nacional, saiba que aqui no Brasil a barreira hoje é apenas mercadológica. “Hoje não se fala mais em qualidade. Temos um produto de ponta. Precisamos é chegar nas gôndolas dos mercados nas demais regiões do Brasil com competitividade, precisamos de espaço”, diz Panizzi.
Nesse sentido, portanto, a campanha #comprevinhogaúcho pode ajudar novos consumidores a descobrir o que turma do vinho já sabe: nosso vinho é bom e não poderia existir melhor momento para os consumidores fazerem um brinde de solidariedade, comprando os produtos locais. A turma do Brasil de Vinhos tem algumas sugestões de regiões, uvas e estilos para você fazer o seu pedido:
– Tannat potente da Campanha Gaúcha
– Merlot com assinatura do Vale dos Vinhedos
– Nebbiolo, essa uva italiana, que é produzida lindamente na Serra do Sudeste
– Sauvignon Blanc dos Campos de Cima da Serra
– Cabernet Franc do terroir de Altos Montes
– Moscatel de Farroupilha
– espumantes de Pinto Bandeira, foram eles que colocaram nossas borbulhas no mapa do mundo
– Chardonnay, com ou sem madeira, de qualquer uma das partes do estado