Não é fácil voar em Marte. O planeta vermelho, que está no momento a quase 300 milhões de quilômetros da Terra (a distância varia conforme a órbita em torno do Sol), tem gravidade menor do que a da Terra − tudo é três vezes menos pesado lá −, mas a atmosfera, em compensação, é rarefeita, ou seja, quase não existe ar para sustentar uma aeronave. Por esse motivo, cada centímetro que o Ingenuity consegue ascender é celebrado como vitória hercúlea pelos técnicos e engenheiros da Nasa.
Depois do voo histórico realizado na madrugada de segunda-feira, 19, o helicóptero-robô foi programado para uma segunda decolagem ontem, 22, às 6h33 da manhã (horário de Brasília), e sua performance foi ainda mais notável: ele subiu a cinco metros de altura − dois a mais do que no feito anterior − e ainda se deslocou lateralmente por cerca de dois metros. O aparelho se sustentou no ar por quase 52 segundos. Toda a operação foi feita com comandos pré-programados enviados às sondas americanas que orbitam o planeta vermelho, já que, devido à enorme distância, é impossível a pilotagem remota em tempo real. As sondas retransmitem os dados ao helicóptero e também ao rover na superfície.
A façanha do pequeno Ingenuity − que pesa 1,8 quilo e mede 48 centímetros, tem duas câmeras e duas hélices com rotores que giram em sentidos opostos − pode ter sido apenas um teste, mas praticamente dá sinal verde para a Nasa tentar um voo mais longo, mais alto e com maior alcance, o que deve permitir que o robô capture imagens inéditas do horizonte avermelhado de Marte e, quem sabe, do companheiro mecânico de seis rodas que o vigia de perto.