Pessimismo marca abertura de reunião climática da ONU
A maioria dos países defende a prorrogação do Protocolo de Kyoto, mas impasse sobre responsabilidades das nações ricas e em desenvolvimento é obstáculo para um novo acordo
Apesar do crescente alarme sobre a mudança climática, as 194 nações reunidas a partir desta segunda-feira em Doha, no Catar, na 18ª Cúpula das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-18), pouco terão a oferecer além de palavras sobre a necessidade de conter as emissões de gases do efeito estufa.
O provável fracasso na definição de uma prorrogação significativa do Protocolo de Kyoto – tratado que obriga nações desenvolvidas a reduzirem suas emissões – deve também enfraquecer a busca por um novo acordo que junte países ricos e pobres na luta contra o aquecimento global a partir de 2020. “A situação é muito urgente. Não podemos mais dizer que a mudança climática é um problema para amanhã”, disse Andrew Steer, presidente do Instituto dos Recursos Mundiais, de Washington.
Há dois anos, numa conferência semelhante, os países da ONU decidiram limitar o aquecimento global a 2 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais. Mas as emissões de gases do efeito estufa bateram um novo recorde em 2011, apesar da desaceleração da economia global. Na semana passada, um estudo divulgado pela ONU mostrou que o mundo caminha para um aumento de 3ºC a 5ºC nas suas temperaturas médias, o que pode influenciar a ocorrência de eventos climáticos extremos, como inundações, secas, ondas de calor e elevação dos níveis dos mares.
“Uma resposta mais rápida à mudança climática é necessária e possível”, disse Christiana Figueres, diretora do Secretariado de Mudança Climática da ONU, em nota na qual apresentou as expectativas para o encontro.
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COP-18 – A reunião acontece num amplo centro de convenções do Catar – primeiro país da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) a receber a conferência climática anual, e o país com a maior taxa per capita de emissões de gases do efeito estufa, quase o triplo da média norte-americana. Ao todo, participam representantes de 194 países na conferência, que vai até 7 de dezembro. A partir do dia 4, os negociadores receberão mais de 100 ministros de estado que tentarão concluir um acordo.
Para manter alguma ação climática em vigor, a maioria dos países é favorável à prorrogação do Protocolo de Kyoto, que foi adotado em 1997 e expira no final de 2012. Esse tratado obrigava as nações desenvolvidas a reduzirem suas emissões num volume médio de 5,2% em relação aos níveis de 1990.
Mas os Estados Unidos nunca concluíram sua adesão ao tratado, enquanto Rússia, Japão e Canadá se desvincularam nos últimos anos. Assim, restaram como principais aderentes a União Europeia e a Austrália, que representam apenas 14% das emissões mundiais. As nações não-participantes dizem que não faz sentido prorrogar o Protocolo de Kyoto se grandes economias em desenvolvimento, como China, Índia, Brasil e África do Sul, não sofrerem restrições legais ao aumento das suas emissões.
Os países em desenvolvimento e os apoiadores de Kyoto, por sua vez, dizem que os países desenvolvidos precisam liderar o movimento rumo a um novo acordo global, a ser negociado até o final de 2015, para entrar em vigor em 2020.
(Com Reuters e agência France-Presse)