O neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis anunciou, há quase dois anos, que um paciente tetraplégico daria o pontapé inicial do jogo inaugural da Copa do Mundo no Brasil, em 2014, usando um exoesqueleto – uma veste robótica controlada por pensamento. Agora, faltando quase um ano para a Copa, estão para começar os primeiros testes com o protótipo, em São Paulo.
As primeiras pessoas a testar o exoesqueleto serão dez pacientes da AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente) da unidade Lar Escola São Francisco, na capital paulista. Os escolhidos serão jovens adultos com lesão medular incompleta, que ainda permite algum grau de locomoção, com altura de até 1,70 metro e com até 70 quilos. “Estamos estudando a melhor forma de ajudar os pacientes. Há uma série de problemas, como a questão do equilíbrio. Tudo isso requer um treino enorme”, afirma João Octaviano Machado Neto, CEO e superintendente geral da AACD.
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Não existe uma data definida para o início dos testes, pois ainda é necessária a aprovação da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), que regulamenta os testes médicos no Brasil. Machado espera que a autorização seja dada ainda em maio. De qualquer forma, o laboratório dentro da AACD onde serão conduzidos os testes ficará pronto em junho.
Além do projeto de Nicolelis, a AACD terá um centro de pesquisas que vai abrigar estudos realizados pelo imunologista Morton Scheinberg, e com células-tronco feitos pela geneticista Mayana Zatz. “As pesquisas estão voltadas para propiciar um andar de melhor qualidade para o paciente”, diz Machado.
Feedback tátil – Exoesqueletos já existem e são usados em diversos centros de reabilitação nos Estados Unidos e em Israel. O grande “pulo do gato” do exoesqueleto criado e aperfeiçoado por Miguel Nicolelis em suas pesquisas na Universidade Duke, em Durham, na Carolina do Norte (EUA), é o “feedback tátil”. O paciente que usar a veste robótica de Nicolelis pode sentir o chão e o peso do corpo ao pisar. Isso facilita em muito o ato de andar.
O projeto de Nicolelis, batizado de Andar de Novo, usa eletrodos no cérebro de macacos para transformar os sinais elétricos emitidos pelos neurônios em códigos que sejam entendíveis pelo computador, que depois reenvia sinais táteis para o cérebro. É a chamada interface cérebro-máquina-cérebro. Nos testes que serão realizados na AACD, no entanto, não serão usados eletrodos conectados diretamente no cérebro, e sim um capacete com sensores que captarão a atividade elétrica cerebral.
O Andar de Novo é uma das grandes apostas do governo brasileiro na área científica: recebeu 33 milhões de reais da Finep, agência do Ministério da Ciência e Tecnologia que financia projetos de inovação.