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O cânhamo vira matéria-prima para alimento, roupa, cosmético e até casa

Impulsionado pelo uso medicinal, o material deixa o estigma de lado

Por Lucas Andrade
Atualizado em 30 out 2020, 10h28 - Publicado em 30 out 2020, 06h00

A chegada dos portugueses ao Brasil em 1500 foi influenciada pelo cânhamo. A fibra resistente, presente nas velas e nas cordas das caravelas, ofereceu as condições para que os navegadores pudessem atravessar o Atlântico e, depois, dominassem o novo território repleto de riquezas naturais. Se era considerado um material de ponta na época das grandes aventuras marítimas, o produto acabaria perdendo espaço com o passar dos anos até ser estigmatizado por causa de sua origem: a Cannabis sativa, a planta usada na produção da maconha. O combate às drogas quase liquidou o uso industrial do cânhamo, mas a história vem mudando nos últimos anos sob influência das pesquisas científicas. Rica em canabidiol (CDB), a substância tem sido empregada no tratamento de convulsões, epilepsia e esclerose múltipla e, em paralelo, vem se tornando matéria-prima também para a confecção de roupas, fabricação de cosméticos e alimentos e na construção de casas.

Os Estados Unidos descobriram o tremendo potencial econômico da planta pegando o vácuo da comprovada eficácia medicinal. Estima-se que, até 2025, o mercado deverá movimentar 35 bilhões de dólares anuais no país. Em 2018, quando o cânhamo foi legalizado em território americano, a cifra mal chegava a 1 bilhão de dólares. O Brasil, por ora, é espectador do movimento. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) permite apenas a importação do insumo para a fabricação de medicamentos. “Soa contraditório, porque isso protege o mercado externo e impede a construção de uma cadeia nacional”, diz o advogado Arthur Ferrari Arsuffi, que atua em três ações para liberar o plantio da erva no Brasil.

PSICODÉLICA - Jaqueta feita a partir da substância: onda sustentável – (./Divulgação)

Em tramitação na Câmara, um substitutivo de projeto de lei é a principal esperança para aqueles que desejam a legalização do cultivo no país. Enquanto isso não ocorre, a expectativa é que o aumento da oferta diminua o custo do insumo e reduza o preço final dos medicamentos — e, no futuro, o dos produtos manufaturados. “Ao não agilizar o processo, desperdiçamos oportunidades por puro preconceito”, diz Marcelo De Vita Grecco, fundador da The Green Hub, empresa criada para fomentar negócios voltados para o uso medicinal do cânhamo no Brasil.

A onda pró-cânhamo tende a se fortalecer nos próximos anos, no embalo da busca por produtos sustentáveis. “As grandes marcas de beleza estão apostando em itens feitos a partir da substância”, diz o engenheiro agrônomo Lorenzo Rolim, presidente da Associação Latino-­Americana de Cânhamo Industrial. Entre os produtos constam cremes hidrantes e máscaras faciais. Na indústria da moda, a Levi’s lançou no ano passado jeans e jaquetas feitos com 69% de algodão e 31% de cânhamo. No ramo de alimentos, fabricantes americanos vendem azeites com a substância. Apesar de ser uma variedade da Cannabis sativa, ressalte-se que o cânhamo possui baixo índice de THC, o componente que provoca a reação psicoativa da maconha. Ele pode até ser um ótimo negócio, mas não dá barato.

Publicado em VEJA de 4 de novembro de 2020, edição nº 2711

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