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Nova série sobre Cleópatra gera polêmica com a cor da protagonista

Egípcios acusam Netflix de deturpar a história. Mas o que está em jogo diante da representação de figuras que transcendem épocas e culturas?

Por Diego Alejandro
Atualizado em 23 Maio 2023, 15h49 - Publicado em 23 Maio 2023, 14h56
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  • Adele James como Cleópatra em nova série documental da Netflix
    Adele James como Cleópatra em nova série documental da Netflix  (Reprodução/Netflix)

    Diversas características atravessam o imaginário ocidental quando o nome de Cleópatra desponta. Magra, olhos sedutores, nariz fino, boca delicada e cabelos lisos com franja, tudo adornado com vestidos sublimes e joias cintilantes. E quanto à cor da sua pele? Para Hollywood, que moldou essa imagem de modo totalmente fictício, Cleópatra só podia ser branca.

    Mas a rainha do Egito é uma mulher negra na nova série da Netflix que leva seu nome no título e foi lançada este mês. Quem vive Cleópatra é a britânica Adele James. Uma escolha que vem produzindo bastante controvérsia.

    A decisão de Jada Pinkett Smith, produtora executiva e narradora do seriado documental, em recriar “a verdadeira história da rainha” e escalar Adele como personagem principal não caiu tão bem, atraindo críticas que já rondavam outras mulheres, brancas e europeias, que um dia vestiram o manto de Cleópatra.

    A nova produção foi recebida com acusações imediatas de falsificação da história. Hashtags de mídias sociais e petições online foram seguidas por um advogado egípcio apresentando uma queixa ao promotor público do país africano contra a Netflix por tentar “apagar a identidade egípcia” da monarca.

    Já o secretário-geral do Conselho Supremo de Antiguidades do Egito e outros políticos, incluindo um dos maiores nomes da arqueologia e ex-ministro Zahi Hawass, reiteraram sucessivamente que Cleópatra tinha “pele clara e feições helenísticas”.

    De fato, não há dúvida de que sua origem remonta a estirpes gregas e macedônias. Os Ptolomeus, dinastia da rainha, descendem de um general de Alexandre, o Grande, que conquistou o Egito em 323 a.C. e colocou o oficial no poder. A família mantinha a tradição de casar os parentes entre si e muitos de seus ancestrais foram retratados com pele clara por isso.

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    Contudo, muitos ficaram conhecidos por terem amantes egípcios, incluindo o avô e o pai de Cleópatra, e a identidade da mãe e das avós da rainha em ambos os lados da família continua sendo um mistério. “Não conseguimos ditar a aparência de nenhum faraó. Suas representações não são precisas e o Egito Antigo era uma sociedade multiétnica”, explica Pedro Luiz Von Seehausen, arqueólogo do Museu Nacional, no Rio de Janeiro.

    No caso da Rainha do Nilo, a coisa é ainda mais complexa, pois, devido à sua influência à época, há registros dela vindos de gregos, egípcios e romanos, de aliados e inimigos, com cada um destacando alguma particularidade e zero conhecimento do conceito moderno de raça, algo que se tornou predominante durante o século XVII.

    + LEIA TAMBÉM: Novos tesouros descobertos por arqueólogos no Egito

    “A série está muito mais pautada em trazer representatividade do que em cravar a aparência da egípcia, e isso é importante. Afinal, não se pode comprovar que ela era negra nem parecida com a Elizabeth Taylor”, diz Von Seehausen, em referência ao filme Cleópatra, de 1963.

    Os termos raciais amplamente binários usados hoje tanto para promover como atacar a série, portanto, seriam anacrônicos, porque refletem visões contemporâneas sobre raça, e dificilmente podem ser aplicados ao contexto lá atrás. “A Cleópatra serve como uma tela onde projetamos nossas aspirações, especialmente ligadas ao universo feminino. Todas as suas interpretações respondem a ideais e problemas da época em que foram criadas”, analisa Thais Rocha da Silva, doutora em Egiptologia pela Universidade de Oxford, na Inglaterra.

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    Elizabeth Taylor como Cleópatra (Reprodução/Divulgação)

    E isso fica cristalino nas representações pelas artes visuais. Durante a Idade Média, Cleópatra foi caracterizada como loira. No período neoclássico, tinha o estereótipo helênico. Ao longo do colonialismo, ela precisava de um europeu para salvá-la ou conquistá-la. Não é surpresa que isso continue até hoje, em um momento em que o racismo sistêmico está sendo denunciado como nunca antes.

    E não é só a opção por Adele James no papel principal que aponta isso, mas também as respostas intensificadas ao seriado. A investigação acadêmica, no entanto, baseia-se na avaliação das evidências disponíveis, e isso não deve ser algo tão controverso.

    Até mesmo a principal biógrafa de Cleópatra, a professora de egiptologia Joyce Tyldesley, escreve que a figura “possivelmente tinha alguns genes egípcios”, “com cabelos escuros e tez morena”.

    Enquanto a verdade histórica não aparece, resta a artistas e produtores diversificar e experimentar.

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