Os níveis elevados de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera estimados para as próximas décadas podem fazer com que a concentração de nutrientes nas principais plantações do mundo sejam reduzidas. Um estudo feito pela Universidade Harvard, nos Estados Unidos, mostrou que a presença de zinco e ferro nos alimentos pode ser prejudicada pela poluição do ar. Para os autores da pesquisa, publicada nesta quarta-feira na revista Nature, esta é a ameaça à saúde mais significativa associada à mudança climática.
CONHEÇA A PESQUISA
Título original: Increasing CO2 threatens human nutrition
Onde foi divulgada: periódico Nature
Quem fez: Samuel S. Myers, Antonella Zanobetti, Itai Kloog, Peter Huybers, Andrew D. B. Leakey, Arnold Bloom, Victor Raboy, Hidemitsu Sakai, Karla A. Sartor, Joel Schwartz, Saman Seneweera, Michael Tausz, Yasuhiro Usui
Instituição: Universidade Harvard, nos Estados Unidos, e outras
Resultado: O estudo mostrou que a presença de zinco e ferro é reduzida em alguns alimentos em decorrência do aumento da concentração de dióxido de carbono no ar. Trigo e arroz seriam os mais afetados.
Estudos anteriores em plantações feitas em estufas com níveis elevados de dióxido de carbono no ar já haviam detectado reduções de nutrientes, mas esses trabalhos foram criticados por promover condições artificiais de crescimento das plantas.
A pesquisa atual mudou a técnica. Desta vez, 41 grupos de grãos e legumes foram cultivados no Japão, Austrália e Estados Unidos segundo um método de enriquecimento de dióxido de carbono ao ar livre, com concentração de CO2 entre 546 e 586 partes por milhão (ppm) – cientistas calculam que esse será o índice em 2050.
Os pesquisadores testaram trigo, arroz, milho, sorgo (um tipo de cereal), soja e ervilha, e os resultados mostraram uma diminuição significativa nas concentrações de zinco, ferro e proteína nos grãos de plantas que fazem fotossíntese do tipo C3 (transformam o gás carbônico em um componente com três carbonos), no caso, trigo e arroz.
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Perdas – Nos campos de trigo, a concentração de zinco diminuiu em 9,3%, a de ferro em 5,1% e a de proteína em 6,3%. A soja e a ervilha também sofreram redução de zinco e ferro, mas não de proteína. A descoberta é ainda mais preocupante levando-se em consideração que 2 a 3 bilhões de pessoas ao redor do mundo recebem mais de 70% do zinco ou do ferro que consomem por meio desses alimentos, principalmente em países subdesenvolvidos.
Os pesquisadores perceberam que as culturas de arroz foram afetadas de formas bem diferentes entre si, o que pode indicar que seria possível produzir um tipo de arroz menos suscetível aos efeitos do dióxido de carbono. Além disso, eles acreditam que pode ser necessário fortificar as plantações com ferro e zinco e até fazer a suplementação nutricional na população mais afetada, a fim de reduzir o impacto dessas mudanças na saúde global.