Grandes animais da Idade do Gelo podem ter surgido antes do que se pensava
Fóssil de rinoceronte lanudo de 3,6 milhões de anos mostra que pelos e grande massa corporal podem ser atributos anteriores à queda global de temperatura
O aumento da massa corporal, a aquisição de vasta pelagem e patas adaptadas à neve podem não ter sido uma adaptação evolutiva decorrente das condições extremas impostas pela Idade do Gelo. O estudo de um fóssil encontrado no sopé dos Himalaias em 2007 – um rinoceronte lanudo de 3,6 milhões de anos – mostra que grandes animais podem, na verdade, ter surgido nas frias montanhas do Tibete antes do período glacial. Quando a temperatura caiu globalmente, desceram as montanhas e, pré-adaptados ao gelo, dominaram as estepes europeias e asiáticas.
Glossário
- Plioceno – Época compreendida no período Terciário da era Cenozoica, de 5 milhões de anos a 1,8 milhão de anos atrás. É conhecida pelo surgimento dos primeiros bípedes e hominídeos.
- Pleistoceno – Época compreendida no período Quaternário da era Cenozoica, de 1,8 milhão de anos a 11.000 anos atrás. É conhecida por extinções da megafauna.
- Idade do Gelo – Longo período do tempo geológico marcado pela prevalência de temperaturas muito baixas, quando boa parte do globo ficou coberta de gelo e neve. Desde sua origem, a Terra já passou por várias eras glaciais. Pesquisadores acreditam que a intensidade da radiação solar, mudanças atmosféricas ou geológicas e quedas de meteoros podem ser responsáveis por essas alterações. As glaciações mais recentes ocorreram na época do Pleistoceno, sendo responsáveis pela formação de geleiras durante o inverno mesmo em zonas temperadas.
As conclusões partiram da análise do crânio e mandíbula da nova espécie de rinoceronte peludo (Coelodonta thibetana) encontrada. A descoberta foi descrita em um artigo publicado na revista Science. O trabalho, liderado por pesquisadores do Museu de História Natural de Los Angeles (HM), nos EUA, e Instituto de Paleontologia e Paleoantropologia da Academia de Ciências da China, sugere um novo cenário para a evolução dos grandes animais durante a Idade do Gelo.
“Tibete, Ártico e Antártica são lugares frios em que a maior parte das descobertas inesperadas será feita no futuro – são fronteiras ainda não amplamente exploradas”, diz Xiaoming Wang, responsável pelo trabalho. Segundo os pesquisadores, o Coelodonta thibetana viveu no meio do Plioceno e é bem mais antigo do que os primitivos descendentes de mamutes que habitaram as estepes europeias e asiáticas durante a Idade do Gelo (Pleistoceno).
O animal desenvolveu algumas adaptações especiais para viver em climas frios. Seu chifre, por exemplo, podia ‘varrer’ a neve. Era uma maneira de facilitar a busca por comida em um ambiente hostil, mas não completamente dominado pelo gelo – como ocorreu mais tarde. Dessa maneira, acostumou-se às altas altitudes e se tornou pré-adaptado ao futuro clima da Idade do Gelo, que despontou de fato há 2,6 milhões de anos. Quando o frio passou a dominar amplamente o globo, no Pleistoceno, os rinocerontes peludos desceram das montanhas e foram bem-sucedidos em ambientes hostis para outros seres.
Além do rinoceronte, os pesquisadores descobriram outras espécies extintas: cavalo de três dedos (Hipparion), carneiro azul (Pseudois), antílope tibetano (Pantholops), leopardo da neve (Uncia), texugo (Meles) e mais outros 23 animais. A coleção de fósseis pode oferecer novas pistas sobre a origem dos grandes animais encontrados no Pleistoceno. Até agora, a maioria dos pesquisadores se voltava para a tundra ou estepes de outras regiões.