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Foguete brasileiro-ucraniano só deve ser lançado em 2014

Presidente da agência espacial brasileira diz que base de lançamento não ficará pronta até o fim de 2013, como prometeu o ex-ministro Aloizio Mercadante

Por Marco Túlio Pires, de São Luís
Atualizado em 6 Maio 2016, 16h29 - Publicado em 24 jul 2012, 17h03

O lançamento do primeiro foguete ucraniano-brasileiro, o Cyclone-4, previsto para novembro de 2013, não deve ocorrer até 2014. A informação foi divulgada pelo presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), o matemático José Raimundo Coelho, durante uma apresentação da 64ª reunião anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência). Raimundo falou a VEJA no evento que ocorre até sexta-feira (27), em São Luís.

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CYCLONE-4 E ACS

O Cyclone-4 é um novo foguete baseado na série Cyclone de foguetes ucranianos, desenvolvidos no fim da década de 1960. O Cyclone-4 será comercializado exclusivamente pela ACS (Alcântara Cyclone Space), uma empresa binacional (Brasil e Ucrânia) criada para administrar e lançar os foguetes a partir do centro espacial Alcântara, no Maranhão. O veículo lançador conseguirá colocar 5.300 quilos (satélites grandes) em órbita terrestre baixa ou 1.600 quilos (satélites de médio porte) em uma órbita geoestacionária.

No início do ano, o então ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, Aloizio Mercadante, anunciou que o Cyclone-4 seria lançado no fim de 2013. Contudo, Coelho disse que visitou o canteiro de obras no Centro Espacial de Alcântara e percebeu, em conversas informais com os funcionários, que o sítio de lançamento não ficará pronto. “O lançamento do Cyclone-4 só deve ocorrer em 2014”, disse. A ACS, empresa binacional (Brasil e Ucrânia) criada para administrar os lançamentos do novo foguete, está executando a fase final de construção do foguete. “As peças já chegaram à base de Alcântara por avião e navio”, disse Coelho.

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O Brasil pretende entrar no competitivo e restrito mercado de lançamento de satélites para abocanhar uma fatia dos 200 bilhões de dólares que giram anualmente entre os países lançadores. Atualmente, poucas nações concorrem entre si nesse mercado. Alguns exemplos são França, Japão, Estados Unidos, China e Rússia.

Coelho explicou que o Centro Espacial de Alcântara está em uma posição privilegiada para o lançamento de satélites geoestacionários de comunicação e meteorológicos, os mais visados do mercado de lançamentos. “O custo para uma operação de lançamento a partir de Alcântara é 30% menor”, explicou o matemático. Isso ocorre porque a base está próxima do equador, local onde a força de rotação da Terra é mais bem aproveitada para impulsionar os satélites em suas órbitas.

José Raimundo Coelho: “Ou mudamos a gestão da AEB, ou desistimos” ()
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Foguete brasileiro – A ACS vai utilizar tecnologia ucraniana para lançar foguetes a partir de uma base brasileira. Porém, o país tem uma ambição maior: lançar um satélite 100% brasileiro, a partir de um foguete igualmente nacional, de uma base dentro das fronteiras do Brasil. O país, contudo, ainda enfrenta grandes dificuldades para conquistar esse objetivo depois do trauma vivido em 2003. Na ocasião, a explosão de um foguete na base de Alcântara provocou a morte de 21 pessoas e a destruição da torre de lançamento no Maranhão. O acidente esfriou os investimentos no setor e fez com que o programa espacial fosse repensado.

A maior aposta agora é um pequeno foguete chamado VLM, este sim previsto para ser lançado em 2013. “O VLM está quase pronto e permite o lançamento de satélites pequenos”, diz Coelho. De acordo com o presidente da AEB, essa categoria de satélites é um grande atrativo para fechar negócios. Tão grande que a ESA (Agência Espacial Europeia) enviou para a AEB uma carta de intenções informando que 15 países querem fechar negócio com o Brasil para lançar pequenos satélites com o VLM. Coelho ainda não respondeu aos europeus porque, apesar “da certeza técnica”, a AEB passa por sérios problemas orçamentários.

A parte técnica envolve a nova torre de lançamentos, que está praticamente pronta. Há duas semanas o local passou pelo primeiro (de três) teste de segurança e será entregue oficialmente nos próximos meses, conforme explicou Coelho. “Ela é mais moderna, mais segura e poderá lançar mais tipos diferentes de foguetes”, disse. “Ela também não repete os erros da torre antiga, e segue os mesmos padrões dos melhores centros de lançamento do mundo”, explicou o presidente. De acordo com Coelho, a AEB contratou uma consultoria russa para “varrer” o programa de lançamentos. “Mudamos a estratégia.”

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Contudo, falta compromisso orçamentário regular. “É preciso ter a garantia de que o dinheiro vai existir na data em que assumirmos o compromisso e isso ainda não existe”, diz Coelho. “Isso ainda é muito complicado para a AEB.” Segundo o presidente, apesar de ser aventado como uma questão de soberania nacional, o programa espacial brasileiro ainda precisa convencer os políticos e a sociedade de que realmente é importante.

“Temos que mostrar resultados com o dinheiro que já é investido”, diz. Coelho disse que a culpa pelos atrasos e fracassos do programa espacial brasileiro não pode ser concentrada na agência. “Muitas empresas contratadas no passado disseram que entregariam o produto em certo tempo e demoraram anos a mais”, disse. “A falta de dinheiro não pode ser usada como desculpa para justificar o não cumprimento de prazos.”

Centro de lançamento de Alcântara no Maranhão ()
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Nova agência – Coelho pretende reformular o modelo de gestão da AEB. Atualmente, o órgão conta com funcionários emprestados de outros lugares, como o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). A rigor, isso quer dizer que a agência não tem funcionários. “O funcionário da agência não tem o coração palpitando pelo programa espacial brasileiro, ele está sempre dividido, emprestado”, diz Coelho. “Isso vai acabar.”

O presidente da AEB está negociando uma nova organização em que o INPE (atualmente ligado diretamente ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação) seja ligado à AEB. “Isso vai facilitar a relação da agência com o instituto e os dois sairão ganhando.” A manobra também permitirá a criação de cargos oficiais na agência, com desenvolvimento de carreira e abertura de concurso público. Se depender de Coelho, o novo quadro já está funcionando. “Estamos agindo como se a nova gestão já estivesse em vigor com força de lei”, disse.

Contudo, falta a formalização do governo para que a estrutura exista oficialmente. “Semana passada tivemos várias reuniões com o Ministério do Planejamento e vamos mudar esse ‘troço'”, afirmou Coelho. “Ou mudamos ou desistimos. Não dá para conduzir as coisas assim. Temos 120 pessoas e nenhum funcionário.”

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Dinheiro – Para amenizar a dura realidade de um ínfimo orçamento (300 milhões de reais, 5% do orçamento do MCTI, 50 vezes menor que o da Nasa) Coelho diz que a solução é estabelecer prioridades e buscar fundos fora do ministério. O presidente explica que essa foi a estratégia adotada com o novo satélite geoestacionário, uma parceria entre a Embraer e a Telebrás.

“Estabelecemos a prioridade de construir um satélite geoestacionário e aproximamos duas empresas interessadas em investir no projeto”, disse. “Sem esse tipo de alternativa, não chegaremos a lugar algum. O Brasil não vai mudar. Temos que encontrar outras maneiras de operar o sistema.”

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