Por Marco Túlio Pires e Luís Bulcão, na VEJA Online:
Após mais de três horas de atraso, delegados e representantes da sociedade civil tomaram a sala da plenária para dormir, cantar e protestar contra a demora no início da plenária que concluiria o texto da Rio +20 (VEJA)
O retrato da desorientação causada pela delegação brasileira no início da madrugada desta terça-feira, no Riocentro, onde ocorrem as negociações para o documento final da Rio +20, foi representado pelo comissário da União Europeia, Janez Potocnik, encarregado de chefiar a delegação do bloco até a chegada dos chefes de estado para a cúpula desta quarta-feira.
Sem ter acesso à versão atualizada do texto em negociação, Potocnik aguardava do lado de fora da sala onde deveria ter ocorrido a última plenária marcada pelo Brasil para as 23 horas. Até as 2 horas, o encontro não tinha começado e Potocnik não havia tido acesso ao texto. “Como eu posso saber se vamos concordar se eu não tenho o texto?”, indagava. “Estamos dispostos e de boa vontade. Não queremos sair daqui sem um acordo. Mas nós precisamos ver o texto antes da reunião.”
As manobras do Itamaraty, que assumiu a coordenação das negociações após a falha no processo conduzido pela ONU, foram, no mínimo, desconcertantes. No sábado, o Brasil entregou um texto limpo, sem as contestações marcadas no documento até então coordenado pelas Nações Unidas. As negociações recomeçaram tendo como base o documento do Brasil, que colocou para a madrugada desta terça o limite final para se chegar ao acordo.
A última plenária para a formulação do texto estava marcada para a sala P3-2, do Pavilhão 3 do Riocentro. Contudo, por motivo desconhecido, os delegados foram informados de que o encontro ocorreria em outra sala idêntica, localizada logo em frente. Todos os participantes tiveram seus crachás conferidos pela segurança mais uma vez na sala P3-1.
Por volta de 1 hora da madrugada, a reunião ainda não havia começado e alguns delegados já estavam incrédulos. “Eles vão cancelar a reunião e pedir que voltemos ao meio dia”, apostou uma representante da sociedade civil. A partir daí, alguns delegados dormiram apoiados sobre as mesas, outros cantaram e teve até quem perdeu o celular e utilizou o microfone da plenária para tentar encontrá-lo.
À 1h53 um assessor do Itamaraty tomou o microfone e disse: “O ministro Antônio Patriota descerá em 10 minutos para falar à plenária sobre os avanços nos trabalhos.” Incrédula, a plenária ensaiou um misto de vaia com frustração. “Avanços nos trabalhos? Não é possível”, exclamavam os membros da delegação turca.