O maior projeto da história da astronomia brasileira está nas mãos do Legislativo. Mais de dois anos depois de ter sido assinado pelo então ministro da Ciência e Tecnologia Sergio Rezende, o acordo de adesão do país ao Observatório Europeu do Sul (ESO) chegou ao Congresso para ratificação. O ESO é o maior consórcio de pesquisa astronômica no mundo, formado por 14 países europeus, com vários telescópios e radiotelescópios de última geração instalados no topo dos Andes Chilenos.
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O contrato de adesão, no valor de 565 milhões de reais a serem pagos em dez anos, faria do Brasil o primeiro membro de fora da Europa e daria a astrônomos brasileiros acesso pleno a todas as instalações do grupo (o Chile não é um membro do consórcio, embora, por ter cedido o território, tenha garantido o direito de usar os telescópios do ESO). O acordo também permitiria a participação do país na construção do maior telescópio no mundo, o Telescópio Europeu Extremamente Grande (E-ELT), prevista para começar no fim deste ano. “O encaminhamento do acordo ao Congresso Nacional reafirma o apoio dado pelo governo ao setor de astronomia no Brasil”, afirma Luiz Elias, secretário executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, em uma carta enviada à presidência da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB) em março.
O projeto foi encaminhado pela Casa Civil ao Congresso há mais de dois meses, mas isso não havia sido anunciado publicamente. O texto deverá passar por quatro comissões no Congresso. A primeira é a de Relações Exteriores e Defesa Nacional, na qual o deputado Emanuel Fernandes (PSDB-SP) atuará como relator. Não há prazo para que o Brasil ratifique o acordo, mas o cronograma de construção do E-ELT exigirá agilidade dos parlamentares, caso o Brasil queira fazer parte do projeto – não apenas como usuário científico, mas como construtor e fornecedor de tecnologia. O projeto é orçado em um bilhão de dólares.
Adesão em debate – O acordo não é uma unanimidade. A maior parte da comunidade científica o apoia, mas há pesquisadores que consideram o projeto caro demais e até desnecessário para a astronomia nacional, que já tem acesso – muitas vezes via colaboração – a esses e outros telescópios de ponta.
Para os defensores da adesão, é uma oportunidade que o Brasil não pode perder. “A adesão do Brasil ao ESO nos colocará no topo das pesquisas em astronomia no planeta, assegurando-nos colaborações científicas e industriais avançadas, com grandes vantagens para o país”, diz a presidente da SAB, Adriana Válio, do Centro de Radio Astronomia e Astrofísica Mackenzie, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. “É impossível ser competitivo com acesso a pouquíssimos instrumentos – e a maioria de baixa performance – como é essencialmente a nossa situação atual”, diz a pesquisadora Beatriz Barbuy, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo.
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(Com Estadão Conteúdo)