Em 2012, quando fazia um trabalho de campo no vale de Wadi El-Raya, uma reserva natural do Egito, o paleontólogo Mohamed Antar descobriu um fóssil que descreveu como sendo, ao mesmo tempo, excitante e intrigante. Ao analisar o material, o grupo de pesquisa identificou aquele como sendo o menor cetáceo – grupo ao qual pertencem as baleias e golfinhos – já descoberto até hoje.
Com 2,5 metros de comprimento e 187 quilogramas, o animal foi nomeado Tutcetus rayanensis. “Tut” foi escolhido em homenagem a Tutancâmon, faraó que morreu aos 19 anos, e “cetus” é a palavra grega para baleia. “O nome também comemora o centenário da descoberta da tumba do rei Tut e coincide com a iminente inauguração do Grande Museu do Egito, em Gizé”, afirmou a VEJA Hesham Sallam, pesquisador da Universidade do Cairo e autor sênior do artigo publicado nesta quinta-feira, 10, na Communications Biology.
Ter sido descoberto no Egito não foi o único motivo para a escolha de homenagear Tutancâmon. Assim como o faraó, o pequeno cetáceo também morreu cedo, logo antes de chegar a vida adulta, o que é evidenciado pelas características da vértebra do animal. Mesmo jovem, Tutcetus era muito diminuto em comparação com os outros membros da mesma família, que costumam medir algo entre 4 e 20 metros.
Essa pequena baleia viveu há 41 milhões de anos, quando o que hoje conhecemos como Egito ainda estava sob as águas de um imenso oceano. Isso a torna o cetáceo mais antigo descoberto na África e um dos mais velhos em todo o mundo. Além do tamanho e da idade, uma outra característica também chamou atenção. Diferente da maioria das baleias e golfinhos, os dentes do Tutcetus não eram todos iguais, o que pode ser uma consequência do rápido desenvolvimento do animal. A arcada também sugere um padrão alimentar majoritariamente carnívoro, baseado em peixes, lulas pequenas, polvos e crustáceos.
Ele pertence ao grupo dos Basilosauridae, os primeiros cetáceos completamente aquáticos de que se tem notícia, em contraste com as espécies anteriores, que eram anfíbias. Por terem se adaptado completamente à água, essas espécies desenvolveram algumas características especiais, como corpo retilíneo, calda vigorosa, nadadeiras e barbatanas. Apesar disso, mantinham um pequeno resquício de patas traseiras, já incapazes de serem utilizadas para locomoção e que desapareceram nos animais contemporâneos.
Essa é a segunda grande descoberta no mundo dos cetáceos tornada pública nos últimos dias. Em um artigo divulgado na Nature, pesquisadores revelaram que um desses basilosaurídeos, com cerca de 20 metros e algo entre 85 e 340 toneladas, pode ter sido o maior animal que já viveu na terra. A grande distância entre os fósseis do Tutcetus e do Perucetus colossus – descoberto no Peru – revela o quão disseminada eram essas baleias primitivas ao redor do globo.
“Basilosaurideos, como uma família, apresentam uma variedade de tamanhos, formas corporais e adaptações, o que é exemplificado pela imensa diferença entre as duas espécies”, diz Sallam. “Em última instância, a descoberta do Perucetus e do Tutcetus revela as complexidades desse campo e nos leva a repensar e refinar nosso conhecimento a respeito da história da vida marinha.”