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Cientistas concluem o mais completo mapa da Via Láctea

Guia da galáxia que abriga o Sistema Solar ampliará o conhecimento sobre a parcela do universo que nos rodeia

Por Sabrina Brito Atualizado em 2 ago 2019, 14h59 - Publicado em 2 ago 2019, 07h00

Até o século IV a.C., quem observava nos céus da Grécia Antiga a mancha branca que perpassa o firmamento imaginava que ela era resultado da ação dos deuses do Olimpo. Seus extraordinários poderes teriam formado a faixa brilhante então chamada de galaxias kyklos, ou “círculo de leite”. Alguns séculos mais tarde, os romanos mudariam o nome para o que conhecemos até hoje: Via Láctea (“estrada de leite”). Embora venha ao menos desde o século V a.C. — graças ao pensador Demócrito de Abdera (c. 460-370) — a ideia de que a Via Láctea seria constituída de estrelas, só em 1610 ela pôde ser confirmada. Munido de seu telescópio, o físico italiano Galileu Galilei (1564-1642) constatou que a “estrada de leite” era, sim, composta desses belos astros de luz própria. Com o passar dos séculos, descobriu-se que ela é a galáxia na qual está inserido o Sistema Solar.

(S. Burnier/.)

Desde então não se avançara muito em relação ao assunto. Na quinta-feira 1º, no entanto, pesquisadores do Obser­vatório Astronômico da Universidade de Varsóvia, na Polônia, publicaram na prestigiosa revista científica americana Science um estudo que, seguramente, abrirá um novo capítulo na história das observações do cosmo. Nele, os astrofísicos apresentaram a formulação do mais completo mapa já desenhado da Via Láctea.

Para alcançarem tal proeza, os cientistas mediram a distância do Sol até cada uma de 2 431 cefeidas — estrelas com brilho até 30 000 vezes maior que o solar. Na sequência, fizeram a cartografia dos astros, em um modelo em três dimensões (veja detalhes acima). Foi a primeira vez em que se utilizaram corpos individuais — cada uma das cefeidas — para mapear a galáxia. Também inédita foi a medição dessas distâncias de forma precisa, em quilômetros (não apenas em anos-luz).

O trabalho rendeu imagens magníficas, que não só ilustram a galáxia em si como servem para lembrar quão pequenino é o nosso planeta em comparação com a imensidão da “estrada de leite”. Mas, sobretudo, ele traz uma conclusão importante para a astrofísica: confirmou-se que a Via Láctea tem a aparência de um disco retorcido. Durante séculos, acreditou-se que sua forma seria achatada — do mesmo modo que se supunha ser plana a Terra (algo que alguns lunáticos ainda defendem). Nas últimas décadas, prevalecia a teoria do modelo arredondado. Faltava uma prova irrefutável.

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Bem, e agora? A cartografia segue com ambições, digamos, estratosféricas. Disse a VEJA a astrônoma polonesa Dorota Skowron, coautora do estudo: “Nosso trabalho ajudará nas pesquisas acerca de como se formou a galáxia que habitamos, servirá de base para investigações sobre a probabilidade de haver vida em outros sistemas estelares e, no futuro, poderá ser um guia para a exploração espacial — mesmo que saibamos que levará séculos para a humanidade começar a se expandir para mundos tão longínquos”.

Pretensioso? A história ensina que não. Um dos primeiros registros de um mapa do céu visível é de 1534 a.C., que era utilizado pelos egípcios para planejar colheitas. Foi somente no século XV que os europeus vislumbraram outra utilidade para essa “ferramenta” (e para tecnologias criadas a partir dela, como as bússolas): navegar entre os continentes. As grandes aventuras começam assim. “Vamos agora medir a composição química das estrelas para achar aquelas que podem servir de centro para formações planetárias”, finaliza Dorota Skowron. O céu é o limite.

Publicado em VEJA de 7 de agosto de 2019, edição nº 2646

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