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Cientistas brasileiros pedem fim dos testes de cosméticos em animais

Pesquisadores divulgam manifesto que reafirma a importância do uso das cobaias em estudos científicos, mas defendem que prática seja abandonada nas pesquisas de cosméticos

Por Guilherme Rosa
Atualizado em 6 Maio 2016, 16h16 - Publicado em 13 nov 2013, 08h53

Um novo manifesto assinado em conjunto pelos presidentes da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (Fesbe) defende o uso de animais como cobaias em experimentos científicos, mas afirma que seu uso pode – e deve – ser abandonado nos testes de cosméticos. Segundo o documento, esse tipo de procedimento já é proibido em alguns países do mundo e o setor conta com técnicas capazes de substituir os modelos animais.

A SBPC reúne mais de 6 000 pesquisadores de diversas áreas, com o objetivo de defender o avanço da ciência no Brasil. Já a Fesbe congrega sociedades científicas brasileiras de áreas voltadas à biologia experimental, como a biofísica, bioquímica, farmacologia, fisiologia, imunologia e neurociências – todas elas envolvidas diretamente com as pesquisas com modelos animais.

O documento afirma que o uso de animais em pesquisas científicas é essencial para o desenvolvimento científico brasileiro. Esse tipo de estudo já trouxe inúmeros benefícios para a humanidade, como “vacinas, medicamentos, desenvolvimento de próteses e cirurgias, terapias com células tronco e terapia gênica”, diz o manifesto.

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Segundo o documento, os pesquisadores têm realizado um esforço para reduzir o número de animais utilizados em suas pesquisas, fazendo o planejamento racional dos experimentos e substituindo-os por métodos validados sempre que possível. O uso desses métodos alternativos é, inclusive, exigido pela legislação brasileira. O problema é que, por enquanto, não existem métodos alternativos capazes de substituir por completo os animais. Não é possível simular toda a complexidade do corpo humano em pesquisas que buscam desenvolver novos medicamentos e vacinas, por exemplo.

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Cosméticos – Segundo o documento, o mesmo não se aplica às pesquisas com cosméticos. “O uso de animais para testes cosméticos é menos essencial e metodologias alternativas validadas podem substituir o uso de animais para esse fim”, diz o manifesto. Esses testes já são proibidos em alguns países, como Índia, Israel e toda a União Europeia, e estão sendo abandonados pela maior parte da indústria. No Brasil, a lei ainda permite esse tipo de estudo.

O documento destaca, no entanto, que antes da proibição completa dessa modalidade de estudo no país, são necessárias algumas mudanças na legislação. Se elas não acontecerem, as técnicas alternativas usadas ao redor do mundo não poderão ser adotadas no Brasil. A Lei 9434/97, por exemplo, impede a comercialização de kits de pele humana, uma das ferramentas alternativas mais usadas no mundo para testar a irritabilidade dos cosméticos. “Esse kit certamente já poderia ser produzido e comercializado no Brasil, se não fossem as barreiras legais”, diz o manifesto.

O próprio Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea), órgão responsável por regulamentar as pesquisas com modelos animais no Brasil, cogita proibir o uso dessas cobaias nos testes de cosméticos. Em entrevista concedida ao site de VEJA em outubro, Marcelo Morales, coordenador do Concea, afirmou que o órgão estuda mudar as regras referentes a esse tipo de pesquisa, mas espera que os impedimentos legais sejam resolvidos antes disso.

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Os testes com animais são mesmo imprescindíveis? Existe um consenso na comunidade acadêmica de que a pesquisa com animais é absolutamente fundamental, pois só assim é possível desenvolver novos medicamentos, vacinas e procedimentos médicos. A expectativa de vida no Brasil tem aumentado nos últimos anos, e não tenho medo de afirmar que boa parte desse aumento aconteceu por causa de pesquisas na área médica e biológica – e, para isso, a pesquisa com animais ainda é essencial. Esses testes também são importantes para a saúde animal. Quando cachorros e gatos domésticos são vacinados de forma segura, isso só acontece porque pesquisas foram feitas anteriormente.

Algum dia os métodos alternativos serão capazes de substituir por completo os modelos animais? É até possível que um dia a tecnologia chegue nesse estágio, mas não consigo ver isso acontecendo nas próximas décadas. Nos últimos anos, uma série de métodos alternativos, como as culturas de células, ajudou a diminuir o uso de animais usados em laboratório, mas estamos muito longe de poder fazer isso por completo. Não existe nenhum método alternativo para o teste de vacinas, por exemplo. De qualquer forma, os novos métodos e a nova legislação brasileira [de 2008] têm ajudado a diminuir em muito o número de animais usados em pesquisas.

E por que vocês defendem o fim do uso de animais nos testes de cosméticos? A pesquisa na área de cosméticos envolve uma questão que, para muita gente, pode parecer superficial, pois não é tão crucial quanto a saúde humana e animal. É preciso deixar claro que isso é discutível: a cosmética não trata só da beleza. Pesquisas nessa área podem levar ao desenvolvimento de produtos que visam tratar doenças de pele, por exemplo. Ainda assim, a comunidade acadêmica está preocupada em acabar com os testes de cosméticos em animais de laboratório. Acontece que existem diversos métodos alternativos que podem ser adotados para as pesquisas de cosméticos, como os kits que simulam a pele humana. Sendo assim, essa é uma área onde estamos muito próximos de acabar com o uso de animais.

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