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Brasileiros criam técnica sustentável para armazenar CO2 no pré-sal

Trabalho de engenheiros da USP é pioneiro em criar forma de guardar o gás em cavernas submersas no mar

Por Sabrina Brito Atualizado em 23 set 2019, 13h14 - Publicado em 23 set 2019, 13h00
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  • Cientistas brasileiros podem ter encontrado uma solução mais sustentável para um dos grandes problemas ambientais da exploração da área do pré-sal. Pesquisadores de grupos da Escola Politécnica da USP, trabalhando dentro de um centro financiado pela Shell e pela FAPESP, começaram, em 2018, um projeto que visa aprimorar a extração e o armazenamento de gás natural dessa região do oceano.

    Os reservatórios do pré-sal possuem grandes quantidades de petróleo com gás natural associado (ou seja, em tese, é impossível retirar o óleo sem que o gás acompanhe). Esse gás é rico em dióxido de carbono (CO2), que não é interessante para o consumo e é considerado um dos principais responsáveis pelo efeito estufa.

    Assim, até agora, a exploração desses recursos é feita da seguinte forma: o gás útil é separado do CO2 dentro dos próprios campos de exploração e o dióxido de carbono é armazenado (uma vez que, tendo em vista o bem do meio ambiente, não é mais permitido liberar todo esse CO2 na atmosfera por meio da queima). Esse processo de separação é demorado, caro e potencialmente perigoso para a natureza já que, por exemplo, parte do dióxido de carbono pode escapar.

    Pensando em aprimorar a técnica, cientistas da USP desenvolveram uma maneira de estocar esse gás de forma segura e sustentável. Foi assim que surgiu a ideia de criar uma tecnologia que permita o armazenamento de CO2 em cavernas salinas abaixo do leito marinho na região do pré-sal.

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    “Da mesma forma que escavamos um poço de petróleo passando pela camada de sal para atingir os reservatório do pré-sal, podemos parar a perfuração na região da rocha salina. Naquele local da plataforma continental brasileira, existem grandes maciços de rocha de sal, onde podemos construir grandes cavernas de estocagem”, explicou Gustavo Assi, engenheiro da Escola Politécnica e um dos responsáveis pelo projeto, a VEJA. O gás carbônico seria, então, injetado no local em sua forma líquida, preenchendo a caverna e expulsando a rocha de sal sob pressão altíssima. Essa pressão ajuda a manter a caverna estável e segura. Depois de totalmente cheia de toneladas de CO2, o local pode ser lacrado, estocando o gás para sempre.

    As vantagens são muitas. Além do fato de que a região propícia para armazenamento está no mesmo lugar da exploração e produção do gás natural (reduzindo as dificuldades logísticas), o Brasil já possui o conhecimento necessário para perfurar poços em regiões mais complexas do pré-sal, facilitando ainda mais o trabalho. Ademais, armazenar o gás permite a extração de maiores quantidades de petróleo, já que ambos os compostos estão associados no momento da extração.

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    Já existem, na América do Norte e na Europa, o armazenamento de CO2 em cavernas salinas sobre terra firme. Como a profundidade é baixa nesses casos, o dióxido de carbono não passa para o estado líquido, tornando a estrutura menos segura. O projeto brasileiro é inédito em criar um método de executar todo esse procedimento ainda sob o leito marinho, fazendo do país pioneiro nessa tecnologia.

    Além do avanço científico, a técnica permitiria que o Brasil armazenasse mais CO2 e reduzisse drasticamente suas taxas de emissão de gases de efeito estufa. Os cientistas já registraram a patente do novo processo de separação.

    O próximo passo, depois da primeira fase do projeto, será a aplicação, propriamente dita, do novo método. Os primeiros testes em laboratório serão feitos em 2020 e, em 2022, deverá ocorrer, pela primeira vez na história, a perfuração de uma caverna salina sob o leito marinho.

    “Numa escala global, se quisermos alcançar as metas de redução da temperatura mundial, estabelecidas pelo acordo do clima de Paris, teremos que não apenas diminuir as emissões de gases de efeito estufa, mas capturar e armazenar carbono já emitido ou em emissão. Portanto, desenvolver a tecnologia para isso é uma ação necessária para a solução do problema”, afirma o engenheiro Gustavo Assi.
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