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As incríveis descobertas dos caçadores de tesouros amadores

Populares na Europa e nos Estados Unidos são responsáveis por achados fundamentais, que vão parar no acervo de reputados museus

Por André Sollitto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 3 fev 2024, 08h00

No vasto acervo do British Museum, em Londres, um dos mais reputados museus do mundo, há um pouco de tudo. Lá está a Pedra de Roseta, a chave que permitiu a decodificação dos hieróglifos egípcios, em 1822. Há esculturas gregas, retiradas do Parthenon, um busto de Ramsés II, faraó do Egito, uma serpente asteca e a estátua Hoa Hakananai’a, uma das famosas peças esculpidas na pedra encontradas na Ilha de Páscoa, também conhecidas como moais. Mas há peças menos conhecidas, que revelam capítulos interessantes da história do cotidiano. E o mais curioso: não foram encontradas por arqueólogos ou profissionais, mas por caçadores de tesouros amadores, que usam detectores de metal e gastam horas vasculhando as margens do Rio Tâmisa e outras localidades em busca de vestígios da vida em outros tempos.

ANÁLISE - Avaliação de peças do British Museum: 1,7 milhão de registros
ANÁLISE - Avaliação de peças do British Museum: 1,7 milhão de registros (Portable Antiquities Scheme/British Museum/.)

Dados recém-divulgados pela instituição britânica indicam 53 490 achados submetidos ao escrutínio dos especialistas apenas em 2022. Do total, 1 378 atendem aos pré-requisitos do que o governo local considera um tesouro — um recorde absoluto. Peças de metal pré-históricas, moedas de ouro ou prata com mais de 300 anos de idade ou objetos raros, pouco vistos no Reino Unido, são alguns dos critérios. A nova leva de preciosidades inclui uma pequena conta, provavelmente parte de um rosário medieval datado de 1450, esculpida com uma face feminina e uma caveira, moedas centenárias e um raríssimo prendedor de vestido, de origem irlandesa, totalmente feito de ouro, com mais de 3 000 anos de idade. A conta foi encontrada absolutamente por acaso, em lance de alguma sorte. Em depoimento ao jornal The Guardian, Jonathan Needham e o amigo, Malcolm Baggaley, relatam que vasculharam um campo encharcado na região de Staffordshire, na Inglaterra, sem sucesso. Foram, então, limpar as botas em um gramado próximo. E foi aí que o detector de metais apitou, revelando o tesouro.

POR ACASO - O Meteorito do Bendegó: obra de um pastor na Bahia, em 1784
POR ACASO - O Meteorito do Bendegó: obra de um pastor na Bahia, em 1784 (Museu Nacional/.)

A prática é comum na Europa e nos Estados Unidos. Com um detector de metal, item fundamental, nas mãos, esses amadores buscam tesouros por hobby. Em inglês há uma expressão para a prática: mudlarking, ou seja, procurar itens valiosos no meio da lama. Embora não sejam profissionais, também estão sujeitos a regras. Na Inglaterra, é preciso tirar uma licença, válida por cinco anos, emitida pela Port of London Authority, organização que supervisiona a navegação e as atividades no Rio Tâmisa e em suas margens. Qualquer descoberta precisa ser reportada a uma divisão do British Museum responsável por analisar os achados com zelo inigualável. Se forem considerados dignos de nota, podem ser comprados pelo Estado, e o valor é dividido entre o caçador e o dono do terreno em que ele foi encontrado, em iguais partes. O British Museum tem mais de 1,7 milhão de registros de itens valiosos catalogados a partir de descobertas quase banais. Há leis semelhantes em outros países, como os Estados Unidos. Por lá, o proprietário da terra é dono de qualquer item que encontrar.

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PRÊMIO - Moedas centenárias: minúcia na definição do que tem valor
PRÊMIO - Moedas centenárias: minúcia na definição do que tem valor (The Trustees of the British Museum/.)

No Brasil, a situação é um pouco diferente. Há casos notáveis, como o do Meteorito do Bendegó. Com mais de cinco toneladas, é o maior já encontrado em solo brasileiro. Sua descoberta aconteceu em 1784, no sertão da Bahia, pelo menino Domingos da Motta Botelho enquanto pastoreava o gado. A primeira tentativa de retirá-lo fracassou, pois a carroça não aguentou o peso. Ele só foi levado ao Museu Nacional do Rio de Janeiro, onde está hoje, em 1888, a pedido do imperador dom Pedro II. Mas a descoberta feita por acaso é muito mais comum do que se imagina. “Na minha área de atuação, a paleontologia, posso afirmar que a maior parte das descobertas é feita por pessoas que não são paleontólogos”, afirma Alexander Kellner, diretor do Museu Nacional. Construções de rodovias, conta ele, costumam revelar vestígios de outrora. Depois, é claro, profissionais são chamados para avaliar o material. Para além do acaso, no entanto, amadores não têm autorização para sair caçando tesouros por aí. A legislação, aqui, é mais restrita. Por isso, é provável que muitas preciosidades ainda continuem escondidas — à espera de um Indiana Jones comezinho, alguém que nunca imaginou poder pôr as mãos em exemplares afeitos a museus.

Publicado em VEJA de 2 de fevereiro de 2024, edição nº 2878

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