Florestas tropicais como a Amazônia brasileira armazenam 21% mais dióxido de carbono (CO2) do que cientistas acreditavam até agora, segundo o mais completo estudo sobre o tema já realizado. Dados confiáveis sobre emissões e sequestro do CO2 da atmosfera são indispensáveis para que os países possam estimar os danos e planejar ações para revertê-los, de acordo com os autores da pesquisa, que foi publicada na revista Nature Climate Change.
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UNFCCC
A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas é um tratado internacional que tem o objetivo de estabilizar a concentração de gases que formam o efeito estufa na atmosfera em uma concentração que não promova mudanças climáticas perigosas para o planeta. Foi formulada em 1992, no Brasil, na conferência que ficou conhecida como Rio-92, e faz reuniões onde são criados protocolos para atingir seus objetivos. Os 194 países membros, incluindo o Brasil, precisam cumprir esses protocolos.
REDD+
É a sigla em inglês para Reduzindo as Emissões Provenientes do Desmatamento e da Degradação Florestal e foi idealizado em 1992, no Rio de Janeiro, mas nunca foi implementado totalmente. Prevê que os países desenvolvidos ajudem a diminuir o desmatamento em florestas como a Amazônia por meio de apoio técnico e financeiro. A redução na emissão de gases estufa valeria créditos para países como o Brasil.
Imagens e medições via satélite e um extenso trabalho de campo foram os instrumentos usados para mapear o dióxido de carbono presente nas florestas tropicais de países da América do Sul, África e Ásia. Essas florestas recolhem o CO2 no processo de fotossíntese pelo qual as plantas produzem alimento. Mas o gás fica estocado nos vegetais e é liberado com sua queima ou corte.
Nos países que ficam entre os trópicos, o desmatamento é um dos principais emissores de gases que formam o efeito estufa. No mundo inteiro, a prática contribui com até 17% das emissões de CO2. E o Brasil e a Indonésia são os países que têm mais dióxido de carbono estocado em suas florestas tropicais, com 35% do total. São também os países que mais liberam o gás na atmosfera por meio do desmatamento.
Segundo a pesquisa, os modelos atuais de detecção de CO2 , que não levam em conta a capacidade das árvores de armazenarem mais dióxido de carbono do que se pensava, superestimam as emissões em até 12%; o que pode ser um número considerável para países que precisam prestar contas à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC na sigla em inglês). E será mais importante ainda quando da adoção do programa REDD+, que prevê apoio técnico e financeiro para que países combatam o aquecimento global por meio da redução da emissão dos gases que provocam o efeito estufa, como o CO2.
CONHEÇA A PESQUISA
Título original: Estimated carbon dioxide emissions from tropical deforestation improved by carbon-density maps
Onde foi divulgada: revista Nature Climate Change
Quem fez: A. Baccini, S. J. Goetz, W. S. Walker, N. T. Laporte, M. Sun, D. Sulla-Menashe, J. Hackler, P. S. A. Beck, R. Dubayah, M. A. Friedl, S. Samanta e R. A. Houghton
Resultado: Dados referentes ao dióxido de carbono acumulado nas florestas tropicais e as emissões causadas pelo desmatamento não são calculados com precisão pelos modelos usados antes dessa pesquisa, que combinou dados de satélites com pesquisa de campo em todos os países envolvidos.
“É a primeira vez que somos capazes de entregar uma estimativa precisa sobre a densidade do CO2 nos locais onde ele nunca foi mensurado antes”, afirmou Alessandro Baccini, cientista do Centro de Pesquisa Woods Hole, que realizou o levantamento junto com as universidades de Boston e de Maryland, todas instituições americanas.
Os estudos anteriores não são precisos, segundo o levantamento, porque calculam o volume de dióxido de carbono de cada região baseado na biomassa média das florestas. Já o novo modelo combinou as informações fornecidas por satélites com pesquisas de campo que definiram a densidade de biomassa em cada floresta. “E as florestas que acumulam mais carbono podem valer mais em programas como o REDD+”, afirma o pesquisador Richard Houghton, que também participou da pesquisa.