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Após repetidos fracassos, as empresas privadas chegam ao espaço

Missões comerciais prometem baratear custo e acelerar conquistas da exploração do cosmos

Por Ligia Moraes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Luiz Paulo Souza Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 17 jun 2024, 06h00
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  • Na década de 1970, poucos anos após Neil Armstrong se tornar o primeiro ser humano a pisar na Lua, a Nasa lançou um estudo com os prospectos de uma auspiciosa economia espacial. As expectativas eram altas: em pouco tempo, impulsionados pelo potencial das empresas privadas, milhares – quem sabe milhões – de pessoas estariam viajando para fora da Terra. A ideia não vingou: por cinco décadas, nem o solo lunar, que parecia estar na palma das mãos, recebeu visitantes. Agora, no entanto, essa realidade começa a mudar. Em meio a uma acalorada corrida espacial, as empresas privadas começam, finalmente, a dar as caras, prometendo a tão esperada popularização do espaço sideral. 

    A mais recente dessas conquistas veio do controverso Elon Musk. A compra do Twitter, embora ele não admita, foi um desastre e, na Tesla, as polêmicas em torno dos carros elétricos e autônomos causam sucessivas quedas nas vendas. A SpaceX, no entanto, é um sucesso absoluto. Com um incontável número de satélites Starlink e um quase monopólio nos lançamentos espaciais tripulados, a empresa acaba de estabelecer outro marco, com o teste bem sucedido do Starship, o maior foguete já construído pela humanidade. 

    O que esse sucesso representa?

    Ele decolou do complexo de lançamento em Boca Chica, no Texas, e conseguiu atravessar a atmosfera, entrando em órbita a uma velocidade superior a 25.700 quilômetros por hora. A missão não foi perfeita, mas superou os resultados dos voos anteriores, nos quais o foguete se destruiu ou perdeu o contato com a Terra. Durante a descida, a espaçonave enfrentou temperaturas extremas, mas entre desafios inesperados, conseguiu um pouso controlado. “Se você consegue trazer a nave inteira de volta, reduz bastante o custo”, disse a VEJA o astrônomo e diretor do Observatório do Valongo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Thiago Signorini Gonçalves.

    STARSHIP - Voo de teste: megafoguete completou com sucesso percurso e retornou intacto à Terra
    STARSHIP – Voo de teste: megafoguete completou com sucesso percurso e retornou intacto à Terra (SpaceX/Divulgação)

    Essa parece ser mesmo a aposta da SpaceX. Em 2021, com um desses modelos reutilizáveis, a queridinha do bilionário já havia feito história, ao se tornar a primeira empresa privada a levar humanos para o espaço. Agora, no entanto, o passo é ainda mais ambicioso. Com um foguete de tais proporções – são 120 metros de altura, 33 motores no módulo de propulsão e seis na espaçonave – viagens ainda mais distantes se tornam uma possibilidade. Entre as promessas estão voos turísticos levando bilionários para uma voltinha em torno da Lua, um grande suporte para a ambiciosa missão Artemis e, no limite, embora pouco provável, de acordo com Gonçalves, uma missão tripulada para Marte. 

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    A notícia veio em boa hora. Em 2023, além da dificuldade da Starship em completar o voo de testes, diversas outras missões comerciais decepcionaram. Entre inúmeros cancelamentos, duas tentativas, uma americana e uma japonesa, falharam frente aos olhos ansiosos do mundo ao tentar difícil pouso controlado em solo lunar. Enquanto isso, duas agências governamentais, sempre elas, conseguiram o feito: uma do governo japonês e outra dos executivos indianos. 

    O que as outras empresas estão conquistando?

    2024, no entanto, parece promissor. No início do ano, a empresa estadunidense Intuitive Machines quebrou o feitiço ao realizar a primeira alunissagem comercial no satélite natural – não sem o apoio da Nasa. Agora, para desafiar o monopólio de Musk, a Boeing finalmente conseguiu, com sucesso, lançar uma missão tripulada a bordo do Starliner, que deve passar a prestar serviços para a Nasa. Empresas como a Blue Origin, de Jeff Bezos, também estão fazendo progressos notáveis, com planos ambiciosos para voos suborbitais e orbitais.

    A guinada tem sido bem vista, em especial pelas agências governamentais. “Quando você tem algum tipo de parceria público-privada, é possível transferir um pouco os riscos e os custos para as empresas particulares, e isso pode beneficiar o próprio governo”, diz Gonçalves. Há, contudo, uma ressalva: “Transferir demais esse risco para as empresas privadas traz o risco de perder essa expertise e abrir mão da autonomia que o governo pode ter.”

    O que dizem as agências públicas?

    Apesar disso, executivos públicos que conversaram com a VEJA demonstraram otimismo. “Esses se tornarão serviços que poderão ser adquiridos por qualquer pessoa, incluindo universidades e outras instituições de pesquisa”, disse o porta-voz da Agência Japonesa de Exploração Aeroespacial (Jaxa). Já Marco Antônio Chamon, chefe da Agência Espacial Brasileira, chamou atenção para a possibilidade de geração de emprego e renda. 

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    Há, no entanto, um outro motivo para apostar no investimento comercial. “Essa corrida tecnológica não traz, necessariamente, um benefício científico imediato”, destaca Gonçalves. “A própria corrida espacial, na década de 1960, foi muito mais uma expressão de uma corrida armamentista do que algo que trouxe um impacto científico gigantesco. Houve descobertas, mas com o montante investido nisso seria possível um retorno maior em missões não tripuladas.”

    DECOLOU! - Feito inédito: Chinas traz amostras do lado oculto da Lua
    DECOLOU! – Feito inédito: Chinas traz amostras do lado oculto da Lua (CNSA/Divulgação)

    Embora o futuro pareça brilhante, são inegáveis os desafios desse mercado. A segurança continua sendo uma preocupação primordial e cada falha é um lembrete dos riscos envolvidos. Além disso, a regulamentação do espaço, o gerenciamento do tráfego e do lixo espaciais e a sustentabilidade das operações são questões que precisam ser consideradas. Contra fatos, no entanto, não há o que dizer: a exploração espacial, uma vez de domínio exclusivo de agências governamentais, está testemunhando uma transformação radical com a crescente participação do setor privado. Convém prestar atenção aos próximos passos dessa jornada cósmica.

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