Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

A incrível caçada ao DNA do gênio Leonardo da Vinci

Pesquisadores identificam parentes vivos do renascentista e buscam traços de seus genes, desbravando uma trilha promissora no estudo dos mestres do passado

Por Amanda Capuano Atualizado em 16 jul 2021, 13h59 - Publicado em 16 jul 2021, 06h00

Até onde se saiba, Leonardo da Vinci (1452-1519) nunca teve companhia feminina. Ao contrário: como informa o biógrafo Walter Isaacson, são pródigos os sinais de que o gênio renascentista era gay e chegou a dividir o teto com um rapazote com cara de anjinho. E nada faz crer que tenha deixado filhos. Mas seu irmão, Domenico, se casou e teve descendentes, sim. Esse detalhe prosaico permite agora à ciência investigar a genialidade do mestre com uma arma inédita: a genética. Parceria entre as universidades Rockefeller, em Nova York, e de Florença, na Itália, a iniciativa Leonardo da Vinci DNA Project busca recuperar os genes do pintor e identificar possíveis segredos sobre suas habilidades. “Ele não era só criativamente excepcional, era um ponto fora da curva também no sentido biológico”, explica o cientista americano Jesse Ausubel, coordenador do projeto.

Livro – Leonardo da Vinci

Uma das frentes desse esforço vem de um estudo publicado recentemente na revista Human Evolution. Os historiadores italianos Alessandro Vezzosi e Agnese Sabato debruçaram-se sobre documentos históricos como registros de igrejas e testamentos para reconstruir a árvore genealógica da família a partir da prole de Domenico, abarcando 21 gerações. Identificaram catorze descendentes vivos, entre 1 e 85 anos, todos moradores da Toscana e com ocupações frugais, como escriturário e artesão. Milko di Mario, último identificado nominalmente, nasceu em 1976, é funcionário público e apaixonado por motociclismo e música. “São pessoas comuns. Será interessante realizar outros testes para verificar o potencial oculto ou traços de semelhança com Leonardo, como sua visão extraordinária”, afirma Sabato.

FORA DA CURVA - Da Vinci: respostas para seus dons podem estar nos genes de pessoas comuns -
FORA DA CURVA - Da Vinci: respostas para seus dons podem estar nos genes de pessoas comuns – (Culture Club/Getty Images)

O passo seguinte será iniciar os testes diretamente nos célebres cadernos de Da Vinci conservadas na Biblioteca Nacional de España, o que deve acontecer nos próximos meses. “Vamos aplicar as técnicas de retirada de DNA nas páginas e comparar o material genético encontrado nelas com o dos descendentes”, diz Ausubel, que tem uma curiosidade especial pela visão espacial do gênio. “Se tivermos DNA suficiente, podemos aprender mais sobre isso.”

Continua após a publicidade

Grandes obras de Shakespeare

Para chegar a esse ponto, os cientistas tiveram de desenvolver técnicas capazes de garantir que nenhum dano seja causado aos manuscritos originais. Descobriram que é possível extrair DNA usando uma borracha, instrumentos a vácuo ou retirando pedaços microscópicos do papel. Mas há um empecilho: embora Da Vinci certamente tenha manuseado seus cadernos, eles também transitaram por muitas mãos ao longo dos séculos. O desafio é saber qual dos DNAs identificados é realmente o dele — e a melhor forma de fazer isso é comparar com os genes de descendentes.

A Morte da Virgem

A estratégia tem precedentes: em 2010, pesquisadores receberam a missão de desvendar a morte de Caravaggio, que faleceu aos 38 anos, em 1610, sob circunstâncias misteriosas. Eles precisavam identificar os restos mortais do pintor, e exumaram esqueletos do local onde acreditava-se que ele estivesse enterrado. Lá, acharam um que batia com as características, mas era preciso ter certeza. Foram então até a cidade de Caravaggio e testaram o DNA dos habitantes que compartilhavam o sobrenome do pintor, Merisi. Foram cerca de vinte testes, todos positivos para algum grau de parentesco. Com isso, analisou-se a ossada e, em 2018, conclui-se que o mestre barroco padeceu de uma infecção pela bactéria Staphylococcus aureus, decorrente de um ferimento de batalha, e não de sífilis, como se acreditava. Quem também teve seu DNA vasculhado foi o inglês William Shakespeare. Em 2019, a Folger Shakespeare Library, que guarda a maior coleção do bardo, testou uma Bíblia de 400 anos e identificou genes de dois europeus — um deles, concluíram, era de alguém com tendência a ter espinhas. Para saber se o DNA acneico é ou não realmente de Shakespeare, será preciso identificar seus descendentes e testá-­los, o que já inspira curiosidade.

Continua após a publicidade

No caso de Da Vinci, na hipótese de ser encontrado o DNA, a descoberta poderá ter impactos que vão além da especulação sobre sua genialidade: com uma “assinatura” hereditária definida, seria possível compará-la em obras sobre as quais pairam dúvidas sobre a autoria. Em tese, a mesma técnica poderá ser estendida a outras figuras históricas. “No futuro, conseguiremos fazer uma biblioteca genética de artistas e ajudar na atribuição de suas obras”, diz Ausubel. Tendo em conta a trajetória de Da Vinci, faz muito sentido arte e ciência caminharem de mãos dadas.

Publicado em VEJA de 21 de julho de 2021, edição nº 2747

CLIQUE NAS IMAGENS ABAIXO PARA COMPRAR

Livro - Leonardo da Vinci
Livro – Leonardo da Vinci
Grandes obras de Shakespeare
Grandes obras de Shakespeare
A Morte da Virgem
A Morte da Virgem

*A Editora Abril tem uma parceria com a Amazon, em que recebe uma porcentagem das vendas feitas por meio de seus sites. Isso não altera, de forma alguma, a avaliação realizada pela VEJA sobre os produtos ou serviços em questão, os quais os preços e estoque referem-se ao momento da publicação deste conteúdo.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.