1% mais rico emite carbono equivalente a cinco bilhões mais pobres
Números evidenciam caráter desigual das mudanças climáticas

Todas as últimas reuniões multilaterais para tratar a crise do clima passaram por um imbróglio: quem será mais responsabilizado pelas consequências da mudança climática? Um levantamento divulgado hoje joga uma luz em algumas soluções possíveis. O 1% mais rico da população mundial emite carbono equivalente aos dois terços mais pobres.
Os números, levantados pela Oxfam Internacional, fazem parte do relatório Equidade Climática: um planeta para os 99% e se referem à geração de gases carbônicos de 2019. Os dados surpreendem – as emissões desse percentil mais rico, além de serem equivalentes aos 5 bilhões mais pobres, são 22 vezes superiores ao limite para assegurar que o aquecimento global se restrinja ao 1,5 grau centígrado definido no acordo de Paris.
O levantamento foi divulgado às vésperas da COP28, Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas que ocorre a partir do próximo dia 30 de novembro, nos Emirados Árabes Unidos. A reunião é aguardada com ansiedade à medida que as consequências do aquecimento global ficam cada vez mais patentes, com ondas de calor, incêndios, tempestades e alagamentos ao redor do globo.
De acordo com os autores do relatório, taxar 60% da renda dos mais ricos seria suficiente para arrecadar 6,4 trilhões de dólares, o que poderia financiar políticas de transição energética. Responsabilizar apenas os bilionários, no entanto, não parece ser suficiente. De acordo com o jornal inglês The Guardian, os 10% mais ricos emitem 40 vezes mais que os mais pobres e, por isso, também devem pagar a conta. E esse grupo não é pequeno – na verdade, qualquer um que receba mais de 40 mil dólares por ano, o equivalente a 193 mil reais, está incluído no grupo, que engloba quase toda a classe média dos países mais desenvolvidos;
Os dados evidenciam o caráter desigual das mudanças climáticas. Os mais abastados têm um rastro de carbono maior, mas têm os meios para se proteger dos efeitos mais agudos, enquanto os mais pobres sofrem mais consequências do aquecimento, sendo menos responsáveis pelos efeitos. Caberá aos países, em conjunto e de maneira definitiva, decidir como isso será levado em consideração no pagamento de contas com a humanidade.