‘Natureza é inegociável e ações são urgentes’, diz especialista em clima
Relatório do IPCC divulgado na Suíça, diz que emissões de gases causados por queima de combustíveis fósseis devem ser evitadas a todo custo
A Organização das Nações Unidas divulgou nesta segunda-feira, 20, na Suíça, o mais recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). O documento, intitulado Relatório de Síntese da Sexta Avaliação do IPCC (AR6), foi aprovado pelos países no final de uma reunião de uma semana, o que significa que os governos aceitaram suas descobertas como conselhos oficiais para basear suas ações. O texto conclui, em resumo, que o tempo está se esgotando se a humanidade quiser evitar ultrapassar um perigoso limiar de aquecimento global.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, alertou os delegados de que o planeta está “chegando a um ponto sem volta”. E acrescentou: “Este relatório é um apelo para acelerar massivamente os esforços climáticos de todos os países e setores e em todos os prazos. Nosso mundo precisa de ação climática em todas as frentes: tudo, em todos os lugares, ao mesmo tempo.”
As emissões globais de dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa continuam aumentando – principalmente devido à queima de combustíveis fósseis, desmatamento e agricultura intensiva – quando, na verdade, precisam diminuir rapidamente. Seria necessário reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 43% até 2030, e 60% até 2035.
Em Paris, há quase oito anos, os governos concordaram em tentar limitar o aumento da temperatura a 1,5°C ou pelo menos mantê-lo bem abaixo de 2°C. Qualquer aquecimento além do limite estabelecido, dizem os cientistas, colocaria a humanidade em risco.
Os impactos climáticos apontados hoje são piores do que os previstos no último relatório de síntese do IPCC de 2014. Os estudos mostram que os atuais 1,1°C de aquecimento do planeta já causaram mudanças perigosas na natureza e no bem-estar das pessoas em todo o mundo. “O IPCC dá, novamente, um recado contundente às lideranças de todo mundo: a natureza é inegociável e a mudança precisa ser feita agora”, diz Alexandre Prado, especialista de Conservação em Mudanças Climáticas do WWF-Brasil.
“O relatório contém muitas mensagem importantes, e a mais importante delas é que as mudanças climáticas estão afetando nossas sociedades e a manutenção do nossos ecossistemas”, disse Paulo Artaxo, professor da Universidade de São Paulo e coordenador de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG) da Fapesp. “Por outro lado, o texto foca em soluções que já existem, e mostra que temos tecnologias e fundos necessários para cortar pela metade as emissões de gases de efeito estufa.”
O documento reconhece, no entanto, que as políticas atuais estão fora do caminho para atingir essas metas, apesar da variedade de soluções econômicas disponíveis. Espera-se que os países avaliem seu progresso para atingir essas metas ainda este ano, no balanço global da cúpula do clima da ONU, a COP-28.
O relatório de segunda-feira vem depois que o IPCC deixou claro, há dois anos, que a mudança climática é claramente causada pela atividade humana e refinou suas previsões para uma série de cenários possíveis, dependendo de quanto gás de efeito estufa continua a ser liberado.
Os governos concordaram na cúpula climática do ano passado no Egito em criar um fundo para ajudar a pagar pelos danos que um planeta em aquecimento está infligindo a países vulneráveis, mas falharam em se comprometer com novas medidas para reduzir as emissões de gases do efeito estufa.